Era das Brizoletas: “Eu tenho saudade até dos pais das crianças”

Um dos poucos educandários no modelo Brizoleta ainda de pé em Taquari está na localidade de Fazenda dos Porto, próxima à divisa com Fazenda Vilanova. A Escola Municipal de Primeiro Grau Padre Alfredo Gonçalves de Moura foi construída em 1962, com a ajuda da comunidade, e funcionou até 2003. Mesmo estando há 18 anos desativada, a escola segue preservada, mantendo ainda no quadro a lição da última aula e as fotos dos ex-prefeitos Namir Luiz Jantsch e Celso Luís Martins, falecido em 1997.

A primeira professora a lecionar no colégio foi Elma da Conceição Rodrigues, 77 anos, que reside em Bom Retiro do Sul. Nesta semana, a reportagem de O Fato conversou, por telefone, com Elma que contou como era trabalhar numa época em que a professora, além de dar aula, era diretora, merendeira e fazia a limpeza da escola.
Ela lembra que morava na localidade de Mundo Novo, em Bom Retiro do Sul, e ia até a escola a pé ou a cavalo, percurso que durava cerca de 15 minutos. “Era muito difícil, um sacrifício. Tenho muito orgulho dos meus alunos, vários que se formaram. Eu tenho saudade até dos pais das crianças.”
Elma começou a lecionar aos 18 anos e foi professora, entre outras, de Maurícia Silveira Palagi, que a substituiu na escola, Gessi Terezinha Porto e Eroci Porto, que também se formaram professoras. “Comecei a trabalhar naquela escola sem ter uma classe nem bancos. O pai da Maurícia (que também doou o terreno para a construção da escola) fez uma mesa bem comprida e os bancos e ali comecei a dar aula. Com o tempo , fui organizando um pequeno armário com uma caixinha. Depois, ia comprando algumas coisas com a ajuda dos pais dos alunos”, lembra.
A escola Padre Alfredo Gonçalves de Moura foi o primeiro local de trabalho de Elma.
“Foi muito gratificante e, hoje, lembro o sacrifício que passei e o orgulho que tenho dos meus ex-alunos. Quando me encontro com eles, a gente se abraça, mas agora não podemos mais nos abraçar, e dizem ‘a minha primeira professora’, é muito legal”, recorda.
O prédio tinha capacidade para duas salas de aula. “Mas só funcionaram as duas salas quando a Gessi Terezinha cursou o magistério e foi fazer o estágio na escola. Ela dava aula em uma sala e eu na outra”, conta.
A professora chegou a ter 24 alunos em um ano e os estudante também precisavam se esforçar para assistir às aulas, “Vinham de longe, a pé, os coitadinhos. Eles também passaram trabalho naquela época”, diz.
A escola funcionava das 8h às 12h e os alunos recebiam a merenda através da colaboração da comunidade e dos itens distribuídos pela secretaria da Educação. “Não tinha como fazer a merenda na escola; eu fazia em uma casa do lado, de uma vizinha. Depois, com a ajuda de um e de outro, compramos um fogãozinho à lenha, colocamos num cantinho da escola e fazia a merendinha deles. As crianças ajudavam a fazer a horta, então nós tínhamos uma hortinha.”
Ela trabalhou na escola até 1977, após 15 anos de serviço. “Pensa bem se não era um sacrifício, a viagem longe, cuidar dos alunos, a direção, merenda, limpeza, horta, tudo isso a gente fazia.” Elma deixou a escola para cuidar das filhas que estavam em idade colegial e não queriam mais morar no interior. Naquela época, Elma lecionava também em Bom Retiro do Sul e passava o dia fora de casa e longe das filhas. O esposo trabalhava na indústria. Ela, então, deixou a função para Maurícia, que foi sua aluna.
A escola foi desativada em decorrência do baixo número de alunos.