O guardião do cemitério na Fazenda Pereira

A data de 2 de novembro é dedicada a homenagear os entes falecidos. Dias antes, as famílias procuram os cemitérios para fazer manutenção e limpeza das lápides. No cemitério municipal dos Barreiros, na localidade de Fazenda Pereira, o zelador, servidor da prefeitura, Cilon Junqueira, dedica-se, diariamente, há quase 12 anos, ao cuidado do local. “Pode olhar, tá tudo limpo, não tem brejo, nada. To sempre controlando os prestadores de serviços para não deixarem entulho dentro do cemitério”, conta.

Cilon sabe o nome de grande parte dos sepultados ali, conhece a história da circunstância da morte e dos familiares do falecido. Tudo isso porque, além do tempo de trabalho, Cilon tem a família sepultada ali. “Meus bisavôs, avôs, estão todos aqui”, conta.
O cemitério é um dos mais antigos do município. Na entrada, o registro feito pelos moradores é do ano de 1849, data obtida conforme relato de pessoas que moraram na localidade mas já faleceram. “Foram as pessoas mais antigas que disseram para nós que foi, por volta de 1850, até antes”, diz.
Para Cilon, um dos problemas do local são as sepulturas abandonadas pelas famílias. “Aquela pedra ali é de 1912, com a fotografia, e abandonada há anos. Nestes 12 anos que estou aqui, nunca vi ninguém vir”, diz. No entanto, o local também é muito procurado pelas famílias que residem em localidades mais distantes, como do Centro de Taquari, para sepultar entes, até mesmo de outros municípios. Por isso, há uma nova ala no cemitério, com capelas construídas nos últimos anos. “Tem muita gente que morava aqui antigamente, foi embora e, depois, vem prá cá”, salienta. Ele diz que está em tratativas para a ampliação do cemitério através da doação de uma área de terras.
Muitas lápides ainda conservam verdadeiras obras de arte, feitas no século passado, como uma corrente esculpida na pedra, junto de outras artes que remetem à profissão de marítimo, no jazigo de Trajano Jorge Lisboa, que nasceu em 17 de março de 1881 e faleceu em 13 de junho de 1949.
Neste último ano, os cemitérios foram alvos frequentes de furtos dos materiais metálicos, como cobre, ferro, bronze e alumínio. “Mas pegaram o ladrão. Tinha pedra que reconhecemos a foto que era daqui e me entregaram de volta”, conta.
O ponto mais procurado no cemitério é a cruz das almas, onde as pessoas fazem preces e acendem velas para todos os mortos.

Semana para limpeza nos túmulos

Na tarde quente da terça-feira, o casal de moradores da localidade de Beira do Rio, Joelci da Silva, 68 anos, e Delci Ferreira Soares, 65 anos, estava no cemitério, na Fazenda Pereira, para fazer a limpeza na lápide dos familiares. “Aprendemos com a família a cuidar e já tenho o lugar onde vou ficar quando morrer. Arrumei perto de onde está o falecido pai, Donato Gomes da Silva”, conta Joeci da Silva. A programação da tarde também contava com a limpeza na lápide do primeiro esposo de Delci, pai dos filhos dela. Joelci e Delci ficaram juntos após ambos enviuvarem.
No cemitério municipal, no Centro, também na tarde da terça-feira, outra família estava dedicada a limpar a lápide dos entes falecidos. “Todos os anos a gente vem. A maior parte dos túmulos nossos são de mármore e precisa só da limpeza mesmo”, diz Paulo Roberto de Quadros Coutinho, 61 anos. Para a esposa, é necessário retribuir o que as pessoas, agora falecidas, fizeram em vida. ““Temos que fazer pelo que as pessoas são para a gente”, diz Ana Beatriz Brandão Coutinho, 61 anos, que estava acompanhada da irmã, Maria Alice Brandão Porto, 68 anos.