Em um ano em que foi necessário se reinventar, independente da área de atuação ou da função, a ação da mãe Juliana Maria Gass, 36 anos, chama a atenção.
Com a suspensão das aulas presenciais e o envio das atividades para serem realizadas remotamente, Juliana encontrou algumas dificuldades para acessar a internet para o filho, Deivid Luan Gass das Neves, 9 anos, fazer os deveres escolares
Na casa de Juliana, na localidade de Morro dos Garcia, no interior de Taquari, há apenas um ponto que conecta a internet e com muita instabilidade. Assim, o filho não consegue acompanhar as aulas online e os trabalhos enviados pela professora, via aplicativo de mensagem no celular, eram difíceis de serem lidos pelo estudante em decorrência do tamanho da letra. Buscando uma forma de ajudar o filho, ela teve a ideia de improvisar um quadro negro onde passaria as atividades propostas pela professora. Inicialmente, Juliana utilizou o fundo de um guarda-roupa velho para ajudar o filho, que está no terceiro ano do ensino fundamental na escola estadual Júlio de Castilhos, transcrevendo as atividades com giz para ele copiar. “Tinha um pedaço de guarda-roupa velho e fizemos um quadro para facilitar, assim fomos fazendo. Ficou melhor para ele, que ia olhando no quadro, lendo e escrevendo no caderno”, conta a mãe. Depois de algum tempo, ela ganhou um pequeno quadro-negro de uma amiga para passar as tarefas ao filho. “Eu até questionei a diretora sobre os trabalhos a distância, disse que não ia adiantar de nada, que as crianças não iam aprender, mas depois mudei de ideia. O Deivid aprendeu um pouquinho mais a leitura, a hora de deixar o espaço entre as palavras, a letra dele deu uma melhorada, foi bem bom até”, avalia a mãe. Juliana, que cursou até a 7ª série, diz que encontrou um pouco de dificuldade no que diz respeito ao conteúdo para ajudar o filho. “Eu disse pra ele: tem coisas que a mãe não lembra, tem que procurar e relembrar para ver como é, mais na área da matemática. Desde o começo, sempre estive junto. Disse pra ele que se a gente tinha que estudar em casa, que fizéssemos fazer valer a pena. É difícil, às vezes estamos estressados, mas respiramos, damos um tempo e vamos lá”, conta a mãe, que ficou desempregada durante a pandemia.
Deivid diz que aprendeu com o auxílio da mãe e que gostou da escola improvisada. “Gostei, mas tô com saudade dos amigos”, afirma.
A diretora da escola Júlio de Castilhos, Sirlei Marques, diz que a atitude da mãe representa todas as demais da comunidade escolar. “Mostra o empenho que todas as famílias tiveram para vencer as adversidades e a desigualdade que o ensino remoto deixou mais evidente. Este ano letivo de 2020 foi de superação.E só unindo esforços, escola e família, que foi possível vencer um ano tão desafiador para todos. São exemplos assim que fazem com que nós, professores, continuemos a lutar pela educação. Só a educação permite a mudança. E é isso que todos buscam, um futuro melhor para seus filhos e através da educação podemos mudar nosso país”.