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Em Taquari, 8% das ruas têm nomes de mulheres

O último Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que a população de Taquari é composta por 51,4% de mulheres e 48,6%, homens. Mesmo sendo maioria no município, é difícil encontrar ruas com nomes femininos em Taquari.

Numa lista fornecida pela prefeitura, com 273 ruas, apenas 22 têm nomes femininos. A nomenclatura das vias é uma forma de homenagem póstuma a pessoas que marcaram história no município. O percentual de homens homenageados é de 91,9%, enquanto o de mulheres é de 8,1%.
A criação das leis de denominação de vias é tarefa da Prefeitura ou Câmara de Vereadores. Para o presidente da Câmara, Vânius Nogueira (PDT), a diferença no número de homenagens é reflexo da sociedade. “A representatividade dos homens, há anos atrás, era bem maior do que as mulheres. Mulher não trabalhava fora naquela época, ficava mais de dona de casa. Agora, elas têm atuação praticamente igual à dos homens. Acho que esse percentual vai aumentar, conforme cresce a representação da mulher no trabalho e na sociedade”, acredita o vereador.
Para a professora de história em Taquari, Simone Vitalina de Souza, a discrepância dos dados reflete a situação de as mulheres terem ficado, por muito tempo, em segundo plano dentro da história, mesmo realizando ações de grande relevância para a nossa sociedade. A professora cita nomes de mulheres que tiveram destaque na sociedade e que, para ela, não são valorizados como deveriam. Ela cita Núbia Saraiva, como destaque municipal; Anita Garibaldi, em nível estadual; Maria Quitéria de Jesus, no cenário nacional; e Malala Yousafzai, no mundial. “Esses são alguns nomes de mulheres que ficaram marcadas em nossa história. Mas mesmo assim, poucas homenagens se têm feito para cada uma delas, incluindo nomes de ruas, pois a distinção entre os sexos acontece até os dias atuais, mesmo com todos os trabalhos desenvolvidos. Isso vai se modificar com essa nova geração, que está aprendendo, desde cedo, a respeitar o próximo, a compreender que todos nós somos diferentes e ao mesmo tempo iguais”, considerou.
Das 22 ruas com nomes femininos em Taquari, quatro estão no bairro Coqueiros, o que tem o maior número de vias com homenagens a mulheres. Nos bairros Colônia 20, Centro e Leo Alvim Faller, há três vias com nomes femininos. Há 18 anos em Taquari, Márcia Teresinha dos Santos, 37 anos, mora na rua Lucinda Capelão Peres, no Leo Alvim Faller. “Eu acho importante a homenagem. Agora até me deu vontade de saber quem foi ela, porque nunca ouvi falar, já que não sou natural de Taquari”, empolgou-se a moradora.

Mulheres homenageadas com nomes de ruas

1 – Acacília Capelão Peres (Coqueiros)
2 – Adolfina Morena Nunes (Leo Alvim Faller)
3 – Amélia da Costa Gravina (Centro)
4 – Arlinda Porto Renner (Colônia 20)
5 – Carolina de Farias Alvim (Leo Alvim Faller)
6 – Cecy Leite Costa (Coqueiros)
7 – Cecília Dória Labres (Caieira)
8 – Cleonita Viana (Centro)
9 – Consuelo Alvim Saraiva (Parque da Pedreira)
10 – Dona Margarida (IPE)
11 – Ermerita Faleiro Lopes (Caieira)
12 – Ivone Pardi “Madre Maria Ivanira” (Bairro São José)
13 – Laura Cruz de Souza (Coqueiros)
14 – Lourivalina Lopes da Silva (Colônia 20)
15 – Lucinda dos Santos Capelão (Leo Alvim Faller)
16 – Margarida Ribeiro (Centro)
17 – Maria da Glória Castro e Silva (São João)
18 – Maria Francisca Capelão de Moraes (Coqueiros)
19 – Maria Rita Dutra da Rosa (Prado)
20 – Olinda Pacheco da Silva (Colônia 20)
21 – Olinda Zimmermann (União)
22 – Schirlei Porto Lucas (Olaria)

Algumas biografias

Em pesquisa na Câmara de Vereadores, o jornal conseguiu informações bibliográficas de algumas das mulheres homenageadas. Confira.

Arlinda Porto Renner – Conhecida por Tiloca, era natural de Taquari e casada com Pedro Kersting Renner, também homenageado com nome de rua. Trabalhou como costureira e produtora rural. Mãe de Milton, Nelson, Maria Luiza e Sueli, faleceu aos 85 anos, em 1996.

Cecy Leite Costa – Nasceu em Porto Alegre e passou a residir em Taquari aos 7 anos. Casou-se com Adroaldo Mesquita da Costa, que foi vereador em Taquari, deputado federal, consultor geral da república e Ministro da Justiça e Negócios Interiores, entre os anos de 1947 e 1950. Cecy teve 11 filhos e foi professora, madrinha da Congregação do Imaculado Coração de Maria, declamadora e atriz de teatro.

Cecília Dória Labres – Foi casada com Vicente Labres, o Lulu, que também é nome de rua em Taquari. Residia nos bairros Praia e Caieira e teve 29 filhos. Foi comerciante na região e atuou em diversas funções durante a vida, buscando o sustento da família. Faleceu aos 74 anos, em 1997.

Ivone Pardi – Natural de Garibáldi, era irmã do Imaculado Coração de Maria. Entre os anos de 1959 e 1963, foi diretora e professora no Ginásio Nossa Senhora da Conceição. Faleceu em 2004, aos 82 anos.

Laura Cruz de Souza – Moradora da localidade de Porto Grande, interior de Taquari, exercia a atividade de agricultora. Como, na época, os meios de transporte e o acesso a atendimentos de saúde eram difíceis, Laura auxiliava a comunidade em casos de doenças, nascimentos e morte, e ficou conhecida por realizar partos na localidade. Faleceu aos 76 anos, em 1981.
Lucinda dos Santos Capelão – Foi uma das primeiras professoras do município, atuando na localidade de Aterrados, na divisa entre Taquari e Tabaí. Também é homenageada no município vizinho, onde a Biblioteca Municipal leva seu nome.

Maria Francisca Capelão de Moraes – Conhecida por Dona Chica, era filha de Lucinda dos Santos Capelão, também homenageada em nome de rua. Foi professora e atuou por muitos anos na alfabetização de crianças na escola do bairro Coqueiros. Na inauguração da Casa da Criança, no bairro Leo Alvim Faller, doou seu único aparelho televisor, na época em preto e branco, para a insitutição oferecer como entretenimento às crianças. Faleceu, aos 79 anos, em 1986.

Maria Rita Dutra da Rosa – Moradora do bairro Prado, foi empregada doméstica e parteira por muitos anos. Era proprietária de grande área de terra no bairro, inclusive a rua que leva o seu nome.

Especialista analisa os dados

O Fato entrevistou o doutor em história, coordenador e professor do curso de história da Universidade do Vale do Taquari (Univates) e também professor de Relações Internacionais, Mateus Dalmaz. Veja a análise do especialista.

O Fato – A que você atribui esta disparidade na proporção dos nomes de ruas entre homens e mulheres?
Mateus Dalmaz – Pode-se dizer que a maior quantidade de figuras masculinas celebradas pelos poderes públicos em comparação ao número de nomes de mulheres se deve, em parte, a uma concepção tradicional de História que vigorou no Brasil entre os séculos XIX e XX, a qual produzia uma narrativa cronológica de fatos políticos, valorizando grandes feitos de governantes, empresários, diplomatas e militares. Assuntos como governo, guerras e tratados internacionais eram supervalorizados pela historiografia tradicional, que usava como fonte de pesquisa única e exclusivamente documentos escritos oficiais, o que contribuiu para a veiculação de uma versão oficial dos assuntos. Tal abordagem narrativa, cronológica, oficial e factual produziu a imagem de grandes sujeitos da história, os quais foram fartamente celebrados pelo poder público em nomes de ruas, praças, avenidas, prédios e monumentos. Outros sujeitos da história, como mulheres, crianças, comunidades indígenas e afrodescendentes, por exemplo, não eram estudados pela historiografia tradicional, não constavam no registro dos documentos, razão pela qual não figuravam nos livros de história e não receberam homenagens do poder público. Por outro lado, a menor quantidade de nomes de mulheres nas celebrações cívicas também se deve a uma larga tradição de predomínio masculino nas áreas de administração, política e diplomacia, fruto de valores machistas por séculos em voga no Ocidente.

O Fato – Isto é uma exclusividade do município ou ocorre em outros locais?
Mateus Dalmaz – Não é uma exclusividade. O Ocidente (Europa e América), de um modo geral, contém monumentos cívico-celebrativos em torno de nomes que se destacaram nas áreas de gestão, guerra e diplomacia. A historiografia tradicional produziu os “grandes sujeitos” da história ocidental, os quais são predominantemente masculinos em função da cultura que, por muito tempo, existiu de reservar certos papeis para homens e outros, diferentes, para mulheres. A cultura Ocidental também fez uso da mitologia greco-romana para celebrar valores contemporâneos, como a razão, a democracia e a república. Deusas e musas do panteão greco-romano aparecem nos espaços públicos de cidades europeias e americanas no sentido de alegoricamente representar esses conceitos valorizados pelos Estados-Nação ocidentais. Há mais alegorias de figuras femininas do que propriamente nomes de mulheres reais nas cidades do Ocidente.

O Fato – Há tendência de reduzir esta disparidade entre homens e mulheres nas homenagens em espaços públicos?
Mateus Dalmaz – Há tendência de reduzir na medida em que, primeiramente, a história não é mais produzida de um modo tradicional. Hoje em dia há preocupação em investigar temas sociais, culturais, antropológicos, econômicos, arqueológicos, e não apenas políticos. As fontes de pesquisa do historiador, atualmente, são as mais diversas, escritas e não-escritas, de modo a enxergar o papel de diferentes sujeitos na sociedade. A historiografia tem sido problematizadora, sendo a mulher, por exemplo, um dos temas em foco não apenas por parte da história, como também por parte das ciências humanas, sociais aplicadas, gestão, saúde etc. Em segundo lugar, há tendência de aumentar o número de nomes de mulheres em homenagens cívicas-celebrativas na medida em que a sociedade, em geral, tem se conscientizado a respeito da violência representada pelo machismo, da importância da mulher histórica e, atualmente, do pluralismo social, da coexistência, do multiculturalismo. Infelizmente, sempre haverá parcelas reacionárias da sociedade que perpetuam preconceitos e aversões ao pluralismo do cotidiano. Para elas, a história tradicional deveria ser ressuscitada. Para o bem da ciência e da sociedade, não será.

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