Há quatro anos, aos sábados, em um lado da rua Vereador Praia, na quadra entre as ruas Osvaldo Aranha e Sete de Setembro, no Centro, produtores de Taquari reúnem-se para vender. Em meio ao movimento do trânsito, cinco feirantes utilizam um lado da calçada para comercializar o que colheram ou prepararam durante a semana.
Irailda Ochoa Carioli, 78 anos, é cliente da feira e diz que vai sempre que vê o movimento no local. “Acho tudo mais natural, venho quando vejo que estão aqui”, comenta. Ela considera a localização boa, mas lamenta a queda no número de feirantes. “O ponto é bom”, diz.
Desde maio de 2015, os produtores locais utilizam o espaço em parte da rua, disponibilizado pela prefeitura como uma melhor alternativa – antes foi realizada nas barracas de madeira da frente da Estação Rodoviária e na Praça da Bandeira – para incentivar e escoar a produção. Naquele ano, foram 29 comerciantes que levaram alface, feijão, batata, bergamota, milho verde, vagem, abóbora, couve, laranja, além de artesanato e produtos processados, como compotas, melado, rapaduras, ocupando os dois lados da rua, fechada para o trânsito para receber os feirantes e os clientes.
No último sábado, 11 de maio de 2019, o cenário era bem diferente. Entre o fluxo de veículos estavam os feirantes, dois deles sob os gazebos (barracas) disponibilizados pela prefeitura. Os outros, que começaram depois, não possuem o equipamento que protege um pouco da chuva, e utilizam o reboque do carro como balcão de venda.
O representante dos feirantes, Alex Sandro Faleiro, morador da Fazenda Pereira, comercializa há três anos e diz que a queda ocorreu pela falta de público. “Temos produtos de qualidade. Temos uma parceria com a Emater na questão de produção com baixa toxidade, mas infelizmente, não temos mercado e freguesia, o que fez muitos feirantes desistirem”, explica o produtor.
No entanto, ele diz que há o que comemorar no aniversário da feira do produtor, especialmente no lado social. “A gente cria amizades com pessoas que não vamos na casa delas mas levamos para a vida da gente. Cerca de 70% da freguesia é a mesma. Conversamos, sei da vida deles e eles da minha”. Ele também comemora o reconhecimento dos clientes. “Tem pessoas que reconhecem o nosso esforço e o nosso trabalho e dizem para não desistir”.
As feirantes Vilma da Silva Schossler, 80 anos, e a filha Nilma Shosller, 49 anos, comercializam na feira há mais de 10 anos, quando era localizada em frente à estação rodoviária. Nilma diz que economicamente a feira já foi melhor, mas que socialmente é muito importante. “A gente vê os clientes que vêm só para tomar um chimarrão, conversar, fizemos muitas amizades e acho isso muito importante para a minha mãe. Ela tem o prazer de fazer as coisas dela e nunca tivemos reclamação de um doce, sempre elogios. Na parte social a feira é excelente”, diz Nilma.
Ela conta que a mãe, Vilma, não conseguiu se aposentar e os doces de frutas e os biscoitos comercializados são produzidos por ela. “Adoro fazer. Vejo uma receita, faço para eu experimentar e se dá certo faço para a feira”, comenta Vilma.
Vale-feira aos servidores municipais para incentivar a venda
O presidente da feira, Alex, diz que a clientela da feira é 70% a mesma e, para aumentar a demanda, ele sugere que o município implante o vale-feira do produtor. A medida serviria de incentivo aos funcionários públicos municipais para comprarem produtos dos agricultores locais. Alex afirma que esta medida foi adotada em Venâncio Aires e Bom Retiro do Sul, quando enfrentaram problemas com a falta de clientes nas feiras de produtores de seus municípios. “Os vales-feira seriam uma excelente oportunidade de fortalecer a agricultura do município. Além disso, seriam beneficiados todos os funcionários públicos municipais que receberiam estes vales de forma gratuita. Este dinheiro não iria para o bolso dos agricultores e sim iria movimentar ainda mais a economia do município gerando mais dividendos para o próprio”, explica.
A falta de estrutura e sanitário
A feira funciona em um lado da quadra da rua Vereador Praia debaixo de algumas árvores. Em 2015, o Município doou gazebos para proteção do sol forte e da chuva. Mas por ser um material frágil, poucos resistiram à ação do tempo. Hoje, os poucos feirantes precisam contar com sorte de não chover para fazer a venda. Para comercializar no sábado pela manhã, os produtos são colhidos e preparados no dia anterior. “Quando chove, a gente não sabe o que fazer. Na semana passada, tava chovendo, arrisquei e vim. Eu tinha uma caixa de repolho, couve-flor, beterraba, rabanete, cheguei e abriu sol. Mas poderia ter chegado aqui e não ter vendido nada, perdido a viagem e nem tirado para a gasolina, chegado em casa e dado tudo para os porcos e as galinhas porque não vence comer tudo”, conta Alex.
A feirante Nilma diz que, nos dias de chuva, os feirantes passam a manhã na água que empoça na calçada. “Alaga tudo e ficamos a manhã inteira com o pés dentro d’água”.
Os vendedores precisam de um banheiro e de uma estrutura fixa para garantir a realização da feira todos os finais de semana.
A falta de uma produção constante
Um dos pontos que pode afastar os clientes da feira é a falta de uma produção constante, inclusive no verão, quando há pouca chuva. Alex conta que, para ter produtos durante todo o ano, implantou um sistema de irrigação, através de financiamento do Programa Nacional da Agricultura Familiar (Pronaf), com o auxílio da Emater na elaboração do projeto. Ele investiu R$ 15 mil para a bomba, sem a construção de dois açudes, e pagará R$ 600 por ano, durante seis anos. Mas Alex salienta que é difícil investir sem visão de retorno e destaca a falta de incentivo do poder público, pois contratou uma empresa para fazer os açudes. “O Município não tinha uma máquina para auxiliar o agricultor. Eu poderia pagar o óleo, o deslocamento, o dia do maquinista, que não daria a metade de uma máquina particular”. Além disso, ele afirma que a prefeitura não disponibiliza um caminhão para o frete de insumos, como o calcário.
Outro ponto debatido pelos agricultores é o das exigências sanitárias para o processamento dos produtos. Desde que a feira iniciou, alguns alimentos, como o queijo e a ambrosia – por conterem ingredientes de origem animal, como o leite e o ovo – não podem mais ser vendidos devido à necessidade de procedência certificada pelo órgão público. É preciso ter uma agroindústria regularizada para realizar a venda, porém os comerciantes justificam que não possuem demanda na feira nem capital para fazer o investimento.
Sem contraponto da prefeitura
O jornal O Fato solicitou uma entrevista com o coordenador da secretaria Municipal da Agricultura, Régis Eli Amaral dos Santos, para abordar as questões levantadas pelo agricultor. A assessoria de imprensa marcou a entrevista para a tarde da quarta-feira, mas foi cancelada depois pelo coordenador, que não a remarcou para esta semana.
Ainda, quanto à estrutura física, a prefeitura possui um projeto de construção de uma área fixa para os produtores, que está sob análise da Caixa Econômica Federal, a ser realizada com emenda do senador Paulo Paim (PT) no valor de R$ 250 mil.