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Em comemoração ao Dia do Índio, celebrado hoje, 19 de abril, em todo o Brasil, o jornal O Fato entrevistou o cacique André Fongue, 40 anos, responsável pela aldeia indígena de Tabaí. Na reserva, situada às margens da BR-386, vivem seis famílias, cerca de 30 pessoas no total.
Os índigenas, da tribo Caingangue, moram há seis anos no local. Eles ganharam, do Governo Federal, a terra em Tabaí no ano de 2013, em função da duplicação da BR-386, que utilizou áreas indígenas para a concretização da obra viária. A aldeia fica no topo de um morro. A maior parte das famílias vive em casas de madeira construídas pelo governo para os indígenas. A do cacique é de alvenaria e já existia no local antes de ser destinado à aldeia. Segundo André, a situação em Tabaí ainda é um pouco precária. Por ser em um morro, o solo da área é bastante rochoso, o que, segundo ele, impossibilita plantações. Também não há água encanada na aldeia. “Pegamos água do arroio para beber, cozinhar, tomar banho. A prefeitura abriu um poço novo para nós, mas não tem bomba”, contou.
Como não realizam plantio nas terras, os índios de Tabaí se concentram, principalmente, no artesanato para manter o sustento das famílias. Na tarde da terça-feira, o grupo que estava na aldeia trabalhava na confecção de cestas de Páscoa, enquanto a maior parte dos indígenas estava em municípios da região metropolitana e vale do Caí realizando a venda do material. “No mês de Páscoa, a gente trabalha mais com artesanato, a gente faz um troco bom na Páscoa e no Natal”, contou. Segundo o cacique, também são procurados trabalhos fora da aldeia, como o de auxiliar de pedreiro por exemplo, serviço no qual trabalhou durante algum tempo em Porto Alegre, quando morou numa reserva indígena na Capital. “Se aparecer serviço, a gente faz, porque precisa dar comida para nossas crianças, comprar roupa, calçado, mas aqui (em Tabaí) não tem muito”, disse. Além disso, uma vez por mês, a Fundação Nacional do Índio (Funai) dá uma cesta básica para auxiliar na alimentação dos indígenas. Segundo o cacique, as ajudas do governo, embora estejam cada vez mais escassas, são fundamentais para a sobrevivência das tribos. “Não é muita coisa, mas ajuda nós um pouco. Sem o governo, não ia dar, sem estudo, a gente não é nada. A gente tem que aprender a viver com os brancos porque eles são bons para nós. Hoje, a gente fala para as crianças estudarem, a gente se organiza mais para eles aprenderem mais. Eu, quando cresci, fui aprender a falar português com 22 anos. Onde eu morava, a gente vivia dentro da aldeia, tinha 5 mil famílias. Se meu pai fosse me botar no colégio para eu estudar, ser alguma coisa, acho que seria melhor para mim”, considerou André, que, atualmente, também trabalha como agente de saúde, em função junto ao povo indígena. Segundo ele, muitos jovens índios estão se preparando para atender necessidades das próprias aldeias e, assim, buscar mais formas de sustento. Em Tabaí, um dos índios está estudando para assumir a função de professor da escola situada na aldeia. Outra aprofunda conhecimentos na área da saúde para atender em um posto, também voltado aos indígenas.
Os caingangues consideram que foram bem aceitos pela comunidade de Tabaí e relatam que nunca sofreram preconceito ou qualquer tipo de violência no município. Sobre situações que causam polêmicas, como a participação das crianças na venda dos artesanatos, o cacique relatou que faz parte da aprendizagem da cultura indígena a confecção de artesanatos desde criança e disse que os pequenos gostam de participar das vendas. “Se eu falar hoje que vou vender, meu filho quer ir junto. É um passeio e ele gosta de tomar um refri, comer um pastel, um salgado”, relatou. Outro ponto abordado pelo cacique são situações criminais envolvendo índios, como prisões por tráfico que já ocorreram em aldeias da região. “Eles dizem que são índios, mas não são, estão sujando a nossa cultura. Aqui, eu sou o líder, eu falo para a comunidade: nunca faz isso. Aqui, nunca entrou droga. Eu falo para eles não se misturar muito, porque se acontecer com um índio lá fora, eles vão dizer que foram os índios, meu nome vai tá junto também, mesmo se eu não fiz, eles vão dizer que foram os índios”, relatou.
Apesar das dificuldades enfrentadas pelas tribos, para André, o Dia do Índio deve ser comemorado por todos. Amanhã, os moradores de Tabaí se deslocam a São Leopoldo, onde será realizada uma grande festa para marcar a data. Além de preces e costumes indígenas, o evento contará com apresentações. Cada aldeia realiza uma dança. A de Tabaí já está ensaiada.
Prefeito de Tabaí diz que aguarda recurso da Funai para compra de bomba d’água
Na manhã de ontem, o prefeito de Tabaí conversou com O Fato sobre a situação dos indígenas do município. Ele disse que há uma bomba de puxar água em um poço menor, situado na comunidade, no entanto, como necessita de manutenção e cuidado constante, muitas vezes o material está estragado. Arsênio diz que a prefeitura busca realizar manutenção no equipamento sempre que possível.
Sobre o novo poço perfurado, o prefeito disse que gastou cerca de R$ 12 mil na perfuração, feita em parceria com a Funai, que também despendeu recursos para a obra. Sobre a bomba para puxar água neste poço, Arsênio disse que o equipamento custa cerca de R$ 16 mil e a prefeitura não tem recursos no momento para sua compra. “Como os índios têm verba própria da Funai, estamos esperando a liberação deste recurso para compra da bomba”, disse.
