O Rio Taquari está com cerca de um metro de profundidade no ponto de demarcação monitorado pela secretaria municipal de Agricultura. Segundo o coordenador da pasta, Leandro Palagi, o nível está cerca de 30 centímetros abaixo do normal para a época, mas ainda não compromete o abastecimento de água na zona urbana.
A informação é confirmada pela Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), que abastece o município e monitora semanalmente o nível da água em seu ponto de captação, situado na Área Municipal de Camping. Segundo a unidade da Corsan de Taquari, não há previsão de racionamento de água neste momento . A medida está sendo adotado em diversos municípios do estado, onde a estiagem está secando as principais fontes de abastecimento da população.
Em março, a precipitação no Rio Grande do Sul foi de 28mm, um quarto da média histórica para o mês, segundo o Governo do Estado. A seca é a maior dos últimos oito anos, pelo menos, de acordo com o governo estadual.
No interior, situação é preocupante
Mais de 50 famílias estão sofrendo com a falta de água para uso doméstico ou consumo de animais no interior do município. Segundo o coordenador de Agricultura, Leandro Palagi, a Prefeitura tem trabalhado com duas equipes no aprofundamento de açudes e abertura de poços para tentar amenizar a situação em diversas localidades do município, principalmente no Pinheiros, Campo do Estado e Porto Grande. Também foi intermediada parceria com o Corpo de Bombeiros e Corsan para levar água nas situações mais críticas.
Além disso, conforme já divulgado por O Fato nas edições anteriores, o prejuízo nas lavouras chega a R$ 10 milhões, tendo mais de 60% de perda no milho e na soja e 20% no arroz, além de outras culturas e pecuária atingidas. A secretaria municipal da Agricultura estima que a perda chegue a 70% da renda anual dos pequenos produtores rurais. “A água é pouca, mas o alimento é menos ainda”, lamenta o coordenador da pasta.
Emater e Corsan dão dicas para consumo consciente
A Emater, que acompanha a situação das famílias do campo com a seca, e a Corsan, que abastece a zona urbana e parte da rural, divulgaram, nesta semana, medidas que a comunidade urbana também pode adotar para amenizar os prejuízos da estiagem. “São muitas tristezas e angústias acontecendo ao mesmo tempo, vamos colaborar. Cada um fazendo sua parte , vamos minimizar um pouco a seca e nossas famílias de agricultores agradecerão, pois são eles que produzem nossos alimentos”, disse a chefe do escritório da Emater de Taquari, Ana Cláudia Desconsi.
Dicas
– Tomar banhos rápidos.
– Ao lavar as mãos, primeiro ensaboar, fechar a torneira e depois enxaguar.
– Limpar e higienizar carros por dentro, deixar para lavar por fora depois de uma abençoada chuva.
– Lavar a louça em uma bacia dentro da pia e reutilizar a água. “Antigamente se fazia assim e é só por um tempo”, indica a extensionista rural.
– Colocar o máximo de roupas na máquina a cada lavagem.
– Ao lavar roupas, a água da máquina pode ser toda reutilizada, basta adaptar sua saída.
– Usar somente a vassoura para limpar a calçada e o quintal.
– Não fazer uso de grandes volumes, como o de piscinas plásticas.
– Utilizar regador para molhar as plantas nos horários de menor incidência de sol.
– Regular as válvulas de descarga.
– Ficar de olho em vazamentos e torneiras pingando.
Frigorífico também tem problemas com a seca
O Frigorífico Vianna, único no município no abate bovino, também está com dificuldade de abastecimento de água. O empreendimento situado nas proximidades da Aleixo Rocha abate cerca de 50 bovinos diariamente entre segunda e sexta-feira. Segundo o proprietário Leandro Joel Viana da Silva, são necessários de 1000 a 1200 litros de água para a realização do abate de cada animal. Os cinco poços da empresa, sendo dois industriais, não estão dando conta do abastecimento. “Os poços não têm vazão suficiente porque a seca está muito grande. Por noite, eu consigo recuperar de 20 a 25 mil litros, mas não é suficiente para todo o abate”, informou o empresário. O frigorífico adquiriu mais quatro caixas d’água, ampliando a capacidade para 88 mil litros, buscando armazenar o máximo possível durante o final de semana.
Na última quarta-feira, por intermédio da Prefeitura, o Corpo de Bombeiros levou 9 mil litros de água à empresa para complementar o abastecimento e viabilizar o abate do dia. Ontem, o frigorífico não realizou abates para armazenar água e concentrar o serviço durante o dia de hoje, quando os Bombeiros devem, novamente, auxiliar a empresa.
De acordo com o soldado Roger, da corporação de Taquari, estão sendo atendidas cerca de 10 situações semelhantes, semanalmente “É um trabalho atípico, devido à estiagem. Tudo coordenado pela secretaria da Agricultura. Eles recebem os pedidos e nos repassam para atendermos aos chamados”, explicou.
Abastecimento de água em Tabaí e Paverama segue normalizado
A água que chega às torneiras para a maior parte da população de Tabaí e Paverama é fornecida por poços artesianos. Nesta semana, o jornal entrou em contato com os responsáveis pelo abastecimento de água desses municípios, que relataram, no momento, não haver previsão de racionamento.
O Departamento Municipal de Abastecimento de Água de Paverama, que atende a 1,7 mil imóveis, está alertando para o consumo consciente da água. Segundo o responsável pelo setor, Jair Roberto da Silva, não há como medir o nível de água nos poços. “Não tivemos problemas de falta de água, mas temos que evitar o desperdício para não haver racionamento”, informou.
O vice-presidente da Sociedade de Abastecimento de Água do Trevo Tabaí, (Saatre), que administra três poços no município e atende a 580 propriedades, também relatou não haver previsão de racionamento. “Estamos acompanhando a situação, mas está tranquila até o momento”, disse Volnei Machado de Quadros.
O jornal não conseguiu contato com a associação responsável pelo abastecimento de água de Fazenda Vilanova.
Fazenda Vilanova decretou situação de emergência em função da estiagem
Na sexta-feira, 27 de março, o prefeito José Luiz Cenci decretou situação de emergência em função da estiagem. A decisão foi tomada em reunião com a Emater e secretarias da Agricultura e Administração e Fazenda.
Segundo a extensionista, Luciane de Armas, a perda chega a 17% em todo o setor primário em Fazenda Vilanova, e os números devem aumentar nos próximos meses, tendo em vista que não foi possível produzir uma silagem de qualidade para alimentar o rebanho no inverno. Também há preocupação quanto à subsistência, que proporciona aos agricultores a produção de seus próprios alimentos e garante a sobrevivência no campo. Segundo José Luiz Cenci, existem no município muitas pequenas propriedades que basicamente produzem o alimento para a própria família. O prefeito acredita que estas famílias vão passar por sérios problemas financeiros porque vão precisar comprar o seu alimento na cidade.
Para decretar situação de emergência, a Prefeitura levou em conta o levantamento feito pela Emater. “Nos deu um alerta e não tivemos mais alternativa a não ser fazer o decreto”, informou. Para matar a sede dos animais, a secretaria de Agricultura do município está construindo poços de dessedentação (tanques) em propriedades do interior que trabalham na criação de gado leiteiro e de corte.
Chuva deve continuar abaixo da média em abril
Segundo a metrologista da Metsul, Estael Sias, a previsão é de que a chuva continuará abaixo da média no mês de abril, que, na região, é de 102mm. “O gráfico para os próximos 45 dias, em Teutônia (onde está instalado o pluviômetro da região), indica ainda chuva irregular, com intervalos razoáveis de tempo seco entre um episódio de chuva e outro”, informou a metrologista. Em maio, deve haver aumento na chuva, com a previsão de 135mm para o próximo mês na região. “Indica volume ao redor da média”, explica Estael Sias.