Tomar um chazinho é uma prática muito antiga e que pode estar presente em variadas situações. Serve para aquecer o organismo no inverno; pode ser um companheiro na hora de ler um livro ou aproximar as pessoas, como uma prática dos ingleses. Mas a mais importante delas é o poder terapêutico das plantas.
Porém, antes de colocar a erva na água quente, é importante observar algumas orientações técnicas para melhor aproveitamento e não acabar tendo um resultado contrário. O princípio-ativo das plantas, que exerce o efeito farmacológico, depende muito de como a bebida foi preparada.
A Instrutora do Serviço Nacional da Aprendizagem Rural (Senar), Lucinara Fanfa Corvello, explica que há variáveis que podem influenciar na qualidade do chá e, pela falta de informação, a bebida cai no descrédito.
Misturar ervas também não é indicado , pois pode potencializar ou anular o efeito. “Ingerir o chá é uma prática do homem branco. Civilizações primitivas utilizavam através de compressas, cataplasmas, escalda-pés, inalações e banhos de assento”, afirma.
QUANTIDADE
Para obter um resultado terapêutico do chá , é necessário o consumo por vários dias. Assim como no tratamento com fármacos, o chá precisa ser ingerido de sete a 10 dias e de duas a três xícaras em cada dia.
SECAS OU VERDES
O recomendado é utilizar a planta verde para manter a qualidade e para que o princípio-ativo ainda permaneça. O processo de secagem tem alguns critérios que podem comprometer o resultado.
PREPARO
Folhas e flores não são fervidas. O ideal é pré-aquecer a água a 70º C, ou seja, mesma temperatura do chimarrão – quando começa a formar as bolinhas, e fazer a infusão. Raízes, cascas e sementes podem ser fervidas.
MISTURAS
Não coloque chás no chimarrão. A erva-mate é estimulante e se utilizada uma planta com efeito calmante pode dar um efeito colateral. É necessário tomar o chá de uma planta por três a sete dias e depois trocar para outro.
DOSAGEM
O preparo da bebida requer cuidado até na quantidade utilizada. Não é necessário muito para obter o resultado. “Não tomamos a cor, tomamos o princípio-ativo que está na planta”. Lucinara recomenda utilizar a palma da mão como medidor: um quarto quando as folhas estão verdes e a metade disso para folhas secas para não dar uma sobrecarga no organismo.
NÃO GUARDE
Na correria do dia-a-dia, muitas pessoas preparam a bebida para ser consumida durante todo o tratamento. “O ideal é fazer e tomar, não deixar guardado de um dia para o outro , pode ser que não tenha mais o princípio-ativo. As coisas são muito dinâmicas. A natureza tem um ciclo: desenvolver, crescer e se reintegrar, com a planta também é assim. Ela não vai produzir o princípio-ativo para a gente, vai produzir para ela”.
FASES DAS PLANTAS
As fases de desenvolvimento das plantas precisam ser respeitadas. Se o uso for da folha, não deve ser coletada quando estiver com flor porque os fitoquímicos são diferentes.
USO
Saber qual a parte da planta a ser utilizada é importante. Da pitanga e da goiaba, por exemplo, que são antidiarréicos, o ideal é consumir os brotos porque ali há maior concentração de tanino, um substância de defesa da planta. “A babosa é para uso externo e não interno como muitos fizeram por um tempo. Ela é de um clima diferente do nosso e aqui desenvolve outros princípios-ativos químicos para se proteger da adversidade do clima”, diz a instrutora.
SENSIBILIDADE
O aproveitamento da planta também depende de como o organismo vai reagir. “Cada pessoa é um ser único e o que serve para mim pode não ter a mesma função para o outro. Eu posso tomar chá de mil em ramas quando estou com dor de cabeça, dor muscular, gripada, pra baixar a febre, mas têm pessoas que não podem tomar. É a planta que escolhe a gente; a gente não pode escolher a planta. Temos que ir experimentando”, orienta.
FONTES CONFIÁVEIS
Para melhor uso dos chás, é importante buscar informações em fontes confiáveis. “Não ficar tirando informações de modas, procurar sempre que tenha algum técnico responsável pela informação. Na internet tem muita modinha. Agora, por exemplo, tem o arantos, da família das folhas da Fortuna, que auxilia no processo de cicatrização no uso externo e, no uso interno, para sistema respiratório. Não tem relato e artigo científico que comprove que ele seja realizado para certas células cancerígenas. Ao contrário da espinheira-santa, que tem relatos e pesquisas sobre o câncer”, afirma.