Principal / Geral / À espera de um lar

À espera de um lar

Na espera por uma tutela responsável, dez menores de idade vivem atualmente no Centro de Acolhimento à Criança e ao Adolescente de Taquari (Ceacat). A casa, ligada à secretaria municipal de Assistência Social, acolhe crianças em situação de vulnerabilidade e ausência de familiares que possam cuidá-las.

Com cerca de 20 anos de atividades, o centro oferece um lar seguro e com rotinas adequadas à infância e adolescência durante o período de reestruturação da família ou encaminhamento para adoção.
A pracinha, com balanços, gangorra e escorregador, é um dos atrativos que mais agrada às crianças. A aula de capoeira, com o professor Luciano Maria, também empolga os moradores da Ceacat. Enquanto fazia palavras cruzadas, uma menina de 11 anos conversou com O Fato. Ao perguntar do que ela gosta mais no local, foi enfática: “Tudo, eu gosto de tudo e das tias (profissionais que trabalham no local)”. A residência conta ainda com livros, brinquedos e sala de TV para o entretenimento das crianças. “A casa apresenta um ambiente familiar, conforme regem as leis federais de orientação técnica, devendo ser o mais parecida possível com uma casa de moradia. Nem mesmo placa de identificação deve ter, para que as crianças e adolescentes não se sintam institucionalizados ou identificados como ‘aqueles do abrigo’, ou como antigamente chamavam, do orfanato”, conta a coordenadora e assistente social da instituição, Andreia Schwingel. No local, há o quarto dos meninos e o das meninas, cada um com seis camas. A residência ainda tem cozinha e banheiros.
Todos os acolhidos frequentam a rede escolar. Enquanto estão na residência, são atendidos por cuidadoras. Oito profissionais trabalham em turnos de 12 horas, mantendo sempre duas cuidadoras na casa. As crianças também acessam atendimentos da rede municipal de saúde, como tratamento psicológico e fonoaudiológico, por exemplo. O número de atendidos varia com frequência, já que podem retornar ao lar, se reestruturado, ou serem encaminhados a famílias adotivas.

A perda da guarda

Segundo a coordenadora Andreia Schwingel, no passado, a principal razão dos acolhimentos era a orfandade, diferente dos dias atuais, que, na maioria, são decorrentes de dependência química dos pais, negligência, maus tratos e prisão. “Pode se dizer que as questões sociais pertinentes ao consumo de drogas hoje são os maiores índices de casos de acolhimento. Mesmo quando uma criança é acolhida por abuso sexual, situação de rua, prisão dos pais, por trás, quase sempre, o gerador do risco foi a dependência química, que ocasionou toda a negligência de quem deveria “cuidar e proteger”, explica.
As situações de vulnerabilidade são identificadas pelo Conselho Tutelar do município e a determinação de afastamento do lar parte do Juizado da Infância e Adolescência. Durante o período em que as crianças estão no abrigo, são acionados órgãos como Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e Centro de Atenção Psico-social (Caps) para atendimento à família, visando à sua reestruturação para que possa receber a criança novamente. “Na ausência dessa reestrutura, as crianças ou adolescentes serão encaminhados para família substituta, caminhando quase sempre para adoção”, informa a coordenadora.

Adoção

Os casos de destituição familiar são feitos pelo Poder Judiciário quando ocorre o esgotamento da rede de atendimento, ou seja, quando a família não consegue se reestruturar para oferecer tutela responsável à criança ou adolescente, apesar de todos os serviços disponibilizados pela rede. Nestas situações, os menores são encaminhados à adoção, que é intermediada pelo judiciário.
As famílias que têm interesse em adotar devem ingressar com pedido no Fórum Municipal. No cartório da Vara da Infância e Adolescência, há uma lista de documentos necessários para a habilitação. Além da entrega da documentação, a família passará por avaliação social, psicológica e visita de assistente social. Se os pareceres forem favoráveis, o candidato à adoção irá para uma lista de espera, de acordo com o perfil da criança ou adolescente que deseje adotar, e é comunicado quando algum menor de idade seja encaminhado à família substituta (disponível para adoção).
Segundo Andreia, que também presta serviço de avaliação social no fórum de Taquari, os casos que mais demoram para adoção são de pessoas que buscam recém-nascidos. Já os que não delimitam cor, raça, sexo, doenças, entre outros, conquistam o direito da adoção de forma mais rápida. Também têm facilidade no processo famílias que se dispõem a adotar grupos de irmãos e uma faixa etária mais ampla. De acordo com Andreia, crianças numa faixa etária acima de 7 anos, que apresentam qualquer tipo de deficiência ou doença, que possuem irmãos e, até mesmo, que não são brancos, muitas vezes, não interessam aos habilitados em adoção e acabam ficando nos abrigos até completar a maioridade. “A grande demora para adoção, que se ouve tanto falar, é justamente em função dos desejos e vontades da família, que, muitas vezes, estão mais ligados a uma questão pessoal, como a realização de um sonho, do que com o propósito de contribuir com o bem comum, a cidadania e a missão solidária. Podemos dizer que, quando tem na Ceacat alguma criança pequena, considerada ‘bonitinha’, se as pessoas veem na rua já perguntam se está para adoção. Com os maiores, que não são considerados os mais ‘fáceis’, não há esse mesmo tipo de pergunta”, relata a coordenadora e assistente social da instituição.

Maioridade

Quando não há possibilidade de retorno familiar, os adolescentes acima de 14 anos são encaminhados para cursos profissionalizantes, estágios e ingresso no mercado de trabalho. De acordo com a coordenadora do Ceacat, os jovens também contam com ajuda da comunidade para conseguir autonomia no momento que completam 18 anos e precisam se desligar da instituição. “Já aconteceram casos em que a casa e a comunidade angariaram móveis usados e utensílios domésticos para que esses jovens aluguem uma moradia”, conta Andreia.

Visitação

Para visitar a casa, é necessário passar por entrevista com a coordenação. É proibida a visitação de pessoas habilitadas para adoção ou que estejam pensando em adotar, com o propósito de conhecer a criança, exceto em caso de determinação judicial. Já familiares, colegas de aula e amigos dos acolhidos podem visitar a casa. Também é permitida visitação de grupos de igrejas ou clubes do município, com intuito de realizar atividades lúdicas, artísticas, esportivas ou religiosas, que precisam ser previamente apresentadas à coordenação para análise.

Manutenção e doações

Os gastos para a manutenção das atividades do Ceacat são pagos pela prefeitura. De acordo com a administração municipal, o custo mensal da casa é de R$ 22.356,60, com folha de pagamento, alimentação, materiais de higiene e limpeza, aluguel, luz e água. O centro também recebe doações da comunidade, como roupas, calçados, brinquedos, entre outros. Para realizar doações, deve-se entrar em contato com o Ceacat pelo telefone 3653-5458.

A vida após a Ceacat

Conheça histórias de crianças que foram acolhidas no passado e hoje vivem fora da instituição.

O começo com as próprias pernas

GERAL - Ceacat Case 01A taquariense Maria Caroline Mello de Oliveira, 25 anos, passou diversas vezes pela Ceacat em função de problemas com a mãe. A primeira vez que foi para o abrigo, junto aos irmãos, tinha 5 anos. A última, 12 anos, quando ficou até completar a maioridade. “A Ceacat foi um lugar que me ajudou muito, pois eu era uma criança muito agressiva e revoltada no começo. Lá, tinha que ir na escola, ter notas boas. Tínhamos roupas boas e limpinhas. Tínhamos comida a tempo e a hora. No Natal, Páscoa e outros feriados, íamos passear na casa de monitoras, quase sempre na casa daquelas que tínhamos mais afinidades”, lembra a jovem.
Caroline também destaca a atenção da equipe, citando a diretora da época, Vanda Quadros, que conseguiu vários cursos de informática, buscando prepará-la para o mercado de trabalho. Ela também cita a importância do preparo das monitoras para o cuidado com as crianças.
A jovem lembra que contou com auxílio de muitas pessoas, entre elas, Lili Almeida, que conheceu em 2009 através da conselheira tutelar Teresinha Mallmann. “Ela estava dando cursos gratuitos de manicure, e após eu terminar o curso, por ter gostado de mim, a Lili resolveu me chamar para trabalhar no salão de beleza dela. Trabalhei com ela até 2018, ela me ajudou muito, a tenho como uma mãe. Nos falamos todos os dias, inclusive a Milena, minha filha, a chama de vovó”.
Em 2012, a jovem precisou deixar a instituição, já que o Ceacat atende crianças e adolescentes até os 18 anos. Segundo Caroline, não foi fácil começar a vida sozinha. “Deixei a Ceacat com 18 anos e seis meses. Fiquei na casa de uma amiga e dois meses depois, aluguei uma casa e fui morar com uma amiga, dividimos o aluguel. Foi muito difícil”, conta.
Caroline relata que seus irmãos menores retornaram para a família e hoje moram com a mãe deles. Outra irmã teve uma filha, que foi adotada por uma família, e hoje estaria viciada em drogas e álcool. Já Caroline conseguiu um emprego, hoje tem um salão de beleza, onde trabalha como manicure, e também atua como costureira. Ela é casada com o motorista Adriano Amaral, com quem tem uma filha de dois anos e meio. “Nos conhecemos há seis anos”, conta.
Para ela, o trabalho da Ceacat foi essencial para que se tornasse a pessoa que é hoje. “Foi muito importante para mim, tive várias oportunidades graças às pessoas de lá, que, apesar do meu gênio difícil, sempre gostaram muito de mim”.

Nos braços da família

GERAL - Ceacat Case 02A moradora do bairro Boa Vista 2, Julci Santos da Silva, 37 anos, só recebeu a notícia de que não poderia mais engravidar e já começou a pensar em adoção. Segundo ela, a ideia, fixa em sua cabeça, deixou parte da família e amigos um pouco apreensiva no início. “Tu ouve muitos comentários negativos. E se virar bandido? E se virar prostituta? Eu sempre respondi: será que na cadeia só existem adotados? São riscos que tu corre mesmo se gerar a criança”, relata.
Após ela e o marido, Gilson Martins dos Santos, 34 anos, se inscreverem no Fórum Municipal para adoção e concluírem toda a burocracia necessária, não levou um ano para receberem a ligação de que havia uma criança de dois anos na Ceacat que poderia ser adotada por eles. “Eu logo disse sim, e, em seguida, me comunicaram que ele tinha uma irmã, de quatro anos, com problema na fala, e que a adoção seria dos dois. Eu aceitei. Tinham 16 pessoas na nossa frente, na fila da adoção, e nós conseguimos porque aceitamos adotar os irmãos”, lembra a mãe.
No primeiro dia em que viu as crianças, que logo os chamaram de mãe e pai, Julci já sentiu o amor materno. “Era uma coisa que estava dentro de mim. E tem muitas coincidências, parece que era para ser. Nos dois anos em que fiz as cirurgias, um na retirada do ovário e no outro, a do útero, eles estavam nascendo. Nos anos em que eu estava fazendo as cirurgias que me impediriam de ser mãe, eles estavam sendo gerados”, conta. Gilson lembra que, para ele, o convívio diário trouxe força para o sentimento paterno. “Com as mães, esse sentimento parece que sempre vem mais rápido. Eu não sei te dizer se para mim levou um, dois ou três meses, foi ao conviver com as crianças, vê-los me chamando de pai”.
Levou pouco mais de um mês de visitas para que o casal conquistasse o direito de levar as crianças para casa. Em busca de melhorar o problema na fala da filha mais velha, os moradores do Boa Vista 2 acabaram descobrindo que a menina tinha um atraso no desenvolvimento mental, o que acarretou uma rotina de consultas médicas, que precisava ser conciliada com o horário de serviço do pai e, principalmente, da mãe, que trabalha como auxiliar de qualidade em um frigorífico de Lajeado e acompanhava a filha nas consultas. “Nós não tínhamos plano de saúde na época, eu dependia do SUS, então, muitas vezes eu chegava do trabalho às 2h e pegava um ônibus da Saúde às 4h para levar ela nas consultas”, lembra a mãe. A menina também teve dificuldade de adaptação em escolas regulares e atualmente frequenta a Apae, onde recebe atendimento especializado. Hoje, com plano de saúde do serviço de Gilson, também ficou mais fácil a família conciliar o tratamento. “Foi algo que a gente não estava esperando e não estávamos muito preparados, até pela questão financeira, porque tu quer dar o melhor para os teus filhos, os brinquedos, as roupas. Hoje, a gente olha para trás e vê que deu conta, que valeu a pena”, conta o pai. “A gente conquistou muita coisa depois deles, parece começamos a nos preocupar mais em adquirir as coisas, em melhorar a casa, para dar o melhor possível para eles”, acrescenta a mãe.
Após seis anos das adoções, a família recebeu a notícia de que poderia adotar outra criança. “Eu já estava louca para adotar também, mas estava esperando uma reação dele. Quando ele disse: vamos lá ver, eu já fiquei feliz na hora”, fala Julci. Desde janeiro deste ano, o casal visita a criança em um abrigo e aguarda o desenrolar da burocracia para conseguir a guarda. Ela já visitou a família por alguns finais de semana e chama os dois de pai e mãe.
Para a família, a burocracia da adoção é necessária, mas poderia ser acelerada para agilizar os processos. Outro ponto alertado pelo casal foi a pouca divulgação sobre licenças maternidade/paternidade para os casos de adoção, o que não foi utilizado por eles e facilita o processo de adaptação da família. “Mas por mais difícil que uma adoção possa ser, vale muito a pena. A minha vida são os meu filhos”, conclui a mãe.

Além disso, verifique

Inaugurada sede própria para a Brigada Militar

A Brigada Militar inaugurou seu novo quartel no fim da tarde da última quarta-feira, 10 ...

seers cmp badge

xu hướng thời trangPhunuso.vnshop giày nữgiày lười nữgiày thể thao nữthời trang f5Responsive WordPress Themenha cap 4 nong thongiay cao gotgiay nu 2015mau biet thu deptoc dephouse beautifulgiay the thao nugiay luoi nutạp chí phụ nữhardware resourcesshop giày lườithời trang nam hàn quốcgiày hàn quốcgiày nam 2015shop giày onlineáo sơ mi hàn quốcshop thời trang nam nữdiễn đàn người tiêu dùngdiễn đàn thời tranggiày thể thao nữ hcmphụ kiện thời trang giá rẻ