Um levantamento feito por O Fato Novo, com base em informações da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), mostra que, a cada dez alunos que ingressam no ensino médio nas escolas estaduais de Taquari, quatro não concluem o curso. O dado leva em conta a média de ingresso e conclusão do curso nos últimos cinco anos.
Entre 2013 e 2017, ingressaram no primeiro ano do ensino médio na rede estadual 1.576 estudantes do município. No mesmo período, formaram-se 935. O número de concluintes corresponde a 59,32% do total.
Segundo o Conselho Tutelar, órgão que fiscaliza as crianças e adolescentes que abandonam a escola, os maiores problemas de desistência e infrequência no Ensino Médio do município estão relacionados ao uso de drogas, gravidez e conflitos familiares. “Acontece de estudantes irem morar com companheiros em outros municípios. Ou começar a trabalhar e parar de estudar. O que mais ocorre são problemas com drogas, falta de interesse de frequentar às aulas mesmo e os pais se sentem impotentes duante da situação. Tem meninas que abandonam durante a gestação, às vezes de risco e com atestado médico, mas depois que ganham os filhos não retornam à escola. São muitos problemas”, explica o colegiado. Além disto, muitas vezes os alunos que abandonam o Ensino Médio já têm mais de 18 anos e não são mais obrigados a frequetarem a escola.
Até setembro de 2018, o Conselho Tutelar recebeu 11 Fichas de Comunicação de Aluno Infrequente (FICAIs) das escolas do município, sendo que quatro tiveram que ser encaminhadas ao Ministério Público, pois o conflito não conseguiu ser resolvido apenas no âmbito do conselho. No MP, os responsáveis devem ser chamados e, se o problema não for resolvido, podem ser penalizados criminalmente, podendo acarretar em pena e multa. No ano anterior, no mesmo período, foram recebidas pelo Conselho Tutelar 72 FICAIs. Os números são relativos ao Ensino Médio e ao Ensino Fundamental. Para o conselho, a redução em mais de seis vezes no número de FICAIs pode estar relacionadas à diminuição da infrequência, ao aumento da resolução dos conflitos no próprio âmbito escolar ou a não comunicação ao conselho, por parte da escola, de algum destes problemas.
Coordenadoria diz que realidade do município é uma amostra do cenário nacional
Segundo o coordenador pedagógico da 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), Fábio Luís Mallmann, os números de Taquari refletem o cenário nacional. “Vejamos alguns dados. Em 2015, 17% dos adultos entre 25 a 64 anos de idade não haviam concluído o ensino médio (esta realidade em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE encontra-se reduzida para 2%). No Brasil, o ensino médio se constitui numa trajetória mínima de 3 anos. Assim, se pensarmos nos alunos na idade certa, temos com 15 anos de idade apenas no 1° ano do EM 53%. Com 16 anos, 67% no 2° ano do EM. Com 17 anos, 55% dos alunos no 3° ano. Num comparativo, países da OCDE alcançam sucesso em 90%”, apontou o coordenador pedagógico.
Para mudar esta realidade, a coordenadoria salienta que tem buscado desenvolver diversas ações junto às escolas, como adoção de ferramentas de gestão em rede e implantação de programas, como o Sistema de Monitoramento Estratégico; ampliação, de 10 para mais de 100, de unidades escolares de ensino fundamental e médio em tempo integral; fortalecimento de programas formativos agregando a várias unidades escolares cursos de formação técnica; concretização da parceria pedagógica com o Sistema S e a oferta de cursos dirigidos a todo o público de cada comunidade escolar; qualificação profissional de gestores, supervisores, professores e funcionários; reestruturação curricular para a Educação Básica em 2016 e, atualmente, prepara-se para uma nova reestruturação mediada pela Base Nacional Comum Currcular e pelo Referencial Curricular Gaúcho; currículo e planos centrados que revelam uma concepção de educação inter e transdisciplinar, centrados no desenvolvimento de conhecimentos, habilidades cognitivas e socioemocionais, e no alcance de competências; implementação do próprio sistema de avaliação interna aplicado para os anos iniciais, finais e Ensino Médio; e protagonismo na oferta de formação objetiva ao protagonismo juvenil.