Um sonho conquistado pelo talento

As irmãs gêmeas Ana e Rute Vaz de Souza, 14 anos, realizaram recentemente o primeiro sonho: o de tocar violino. Frequentadoras das aulas no Sesi, de Lajeado, em cinco anos de estudos, elas já integram a Orquestra Big Band e a de Cordas, a Banda Marcial de Fazenda Vilanova, da Igreja Assembleia de Deus que frequentam, e a Orquestra de Concertos de Lajeado (Oclaje) desde o ano passado.
Moradoras de Fazenda Vilanova, cursam o 9º ano na Escola Municipal Edgar da Rosa Cardoso, e desde pequenas manifestaram o interesse em aprender o instrumento. Rute via um dos irmãos delas tocando violino na igreja. Buscando realizar o sonho das meninas, a família encontrou uma escola de música em Lajeado, e as irmãs iniciaram os estudos. Rute no violino e Ana, inicialmente, no canto e no piano. Logo, ela também quis fazer violino. Com o passar de alguns meses, o valor da mensalidade passaria de R$ 270 para R$ 300. A mãe das gêmeas, esteve na escola para fazer a rematrícula, mas foi desaconselhada pela professora. “Ela disse que não adiantaria fazer a rematrícula porque elas não levavam jeito para música”, lembra a mãe Marilês Souza.
Desligaram-se da escola, mas ainda na busca de uma colocação para as filhas, conversou com conhecidos e obteve a indicação do SESI (Serviço Social da Indústria) em Lajeado. Estiveram lá e se fizeram a matrícula. “O professor de violino abraçou elas e disse que a gente ia mostrar que levavam jeito sim e que iriam realizar o sonho”.
Com a motivação dos professor e do maestro das orquestras do Sesi, elas aprenderam a tocar o instrumento. Após três meses de aula, conheceram a orquestra jovem e o grupo de cordas do professor Sinésio Adolfo Fröder. Os primeiros seis meses foram de estudos. “Quando começaram a ir para as orquestras e a se apresentar, chorei muitas vezes porque é uma emoção muito grande. A gente sempre batalhou muito nessa vida, quase trabalhando de dia para comer de noite e ver os filhos se apresentar…”, comemora a mãe.
No dia 15 de março passado, as irmãs foram personagens principais de um recital realizado no município. O evento foi organizado por amigos, como a diretora da escola onde estudam e os professores de música, para angariar recursos para a compra de dois violinos profissionais, que custam R$ 1.820 cada. “Tava tudo muito lindo, foi muito emocionante. Peguei 80 convites e consegui vender 60. Teve gente da Vilanova, Novo Hamburgo, Montenegro, Lajeado, para ver a aplaudir elas. Nem os professores imaginavam que era tão bem. Quando terminou o recital, os maestros vieram para abraçar elas e disseram que sabiam que são boas e que é recém começo, que de agora em diante vão expandir o trabalho. São duas meninas a menos que eles (o poder público) têm que se preocupar. Quem dera outras meninas tivessem esse incentivo, essa vontade”, salienta a mãe.
Cada ingresso teve o custo de R$ 40 o casal, a mãe vendeu 60 dos 80 que pegou. “Todos colaboraram e estão torcendo. Onde eu batia, não saía sem ganhar pelo menos 10 reais. Mesmo quem não ia, comprava”, lembra.
Com o recital, foi arrecadada a maior parte do recurso. Mesmo assim, a mãe já encomendou os instrumentos, que devem chegar em três meses. “No momento que chegar elas vão poder se apresentar nos lugares, porque o som é outro, e vão ter o outro de reserva”.
Atualmente, Rute apresenta-se com o seu violino, mas que não é profissional, e o de Ana é emprestado do Sesi. Ela também tem, mas não é profissional. Além disso, não pagam para estudar no Sesi porque tocam nas orquestras. Têm aula duas vezes por semana em Estrela e vão outras duas vezes a Lajeado, para ensaio nas orquestras.
A despesa de deslocamento é por conta da família, o pai leva nas quatro vezes por semana que se deslocam para Estrela e Lajeado. “É meio complicado porque nós dois somos aposentados, não ganhamos muita coisa. Estamos tentando arrumar mais crianças, que daí os pais ajudam a dividir a despesa, mas quando fala em despesa, ninguém quer”.
A intenção da família é, após a chegada dos violinos, organizar um novo recital para mostrar o instrumento à comunidade, sem cobrar ingresso.
As meninas, que iniciaram na flauta e hoje tocam também trompete e saxofone, agora têm novos sonhos. Elas objetivam ser professoras de violino. “Gosto de tocar violino e quero ser uma professora profissional, mostrar para a primeira professora que ela errou bastante em dizer que a gente não era capaz para tocar o instrumento que sempre desejou”, diz Ana.
“A gente gosta de tocar e a primeira professora que tivemos aula pode ver a nossa capacidade, mostramos pra ela que a gente ia conseguir e conseguimos”, afirma Rute.
O trabalho das meninas pode ser acompanhado nas redes sociais Instagram, Twiter e you tube anaerutedesousavaz. Elas também foram personagens de uma inserção comercial, no intervalo do Fantástico, em outubro de 2016, na série Transformadores, da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs)/Sesi. O interesse pela história das meninas que foram desencorajadas surgiu após assistirem a uma apresentação delas.