O desafio de percorrer mais de 1,2 mil quilômetros em 84 horas (três dias e meio) foi concluído pelos taquarienses Diones Azevedo, 38 anos, e Leonardo Machado Coutinho, 41 anos, durante a mais importante prova de ciclismo do mundo, a Paris-Brest-Paris (PBP), na França. O circuito iniciou às 5h30 da segunda-feira, 19 de agosto, e encerrou, para os taquarienses, na tarde da quinta-feira, 22, pelo horário da França.
“O sentimento da chegada é mágico”
Para o médico Leonardo Machado Coutinho, o momento em que concluiu o trajeto será lembrado para sempre. “O sentimento da chegada é mágico, consegui filmar. Muitas pessoas ficam te aplaudindo, como se você fosse um verdadeiro herói”, conta. A receptividade dos franceses com os participantes do PBP também é destacada por ele, assim como o respeito dos motoristas, que obedecem à lei de distância de 1,5 metro do ciclista para ultrapassagem, a mesma do Brasil. “Jamais ouvi uma buzina ou xingamento. O povo francês é a grande estrela da prova. Mesmo em locais muito isolados e em horários como no meio da madrugada, havia pesssoas nas calçadas para aplaudir, dar palavras de incentivo”, conta, citando que a população também oferecia gratuitamente alimentação ao longo do percurso.
De acordo com o taquariense, a grande dificuldade do PBP está em administrar o ritmo da prova, pois se for muito devagar, pode não completar dentro do tempo esperado (84 horas), e se for muito rápido, pode causar exaustão e consequente abandono do desafio. Também houve vento contra os participantes na maior parte do trajeto e temperaturas oscilantes, com cerca de 3º na madrugada. “Com o corpo suado, facilmente se entra em hipotermia. Vi várias pessoas abandonarem por esta razão”, fala Leonardo.
Além das dificuldades enfrentadas por todos os competidores, o taquariense teve problemas com a bicicleta, faltando cerca de 120 km para o fim da prova, quando quebrou um raio da roda traseira. Além de a roda ficar torta, começou a pegar no freio e gerar ainda mais dificuldade para o ciclista. “Tentei tirar uma pastilha de freio, mas a polícia da França me abordou e disse ser proibido na França andar de bicicleta com um dos freios apenas. Mas os policiais ajudaram a soltar o cabo e consegui rodar até uma banca da comunidade, onde havia ali um senhor francês que entedia de mecânica e me ajudou, com a ferramenta correta, a centrar a roda e afrouxar alguns raios, permitindo que eu seguisse até o final da prova num ritmo mais lento”, recorda.
Leonardo conseguiu completar todo o percurso em 81h52 e conquistou a tão sonhada medalha do PBP, entregue a todos os participantes que concluem o desafio no prazo estimado, sem distinção para o mais rápido.
“Para muitos parece loucura o que fizemos”
A emoção de superar a distância, o sono, o frio, o tempo e concluir o desafio foi grande para o técnico projetista Diones Azevedo, 38 anos. “O sentimento é de dever cumprido, de vencer seus próprios limites, inexplicável. Só quem pedala e é um Super Randouner vai entender o que estou falando, pois para muitos parece loucura o que fizemos”, diz.
Diones superou diversos problemas durante a prova. Já nos primeiros momentos na França, atacou-se da garganta e sinusite. “Dificulta um pouco o rendimento e, à noite, eu ficava muito ruim. Então resolvi baixar o ritmo e administrar o tempo para conseguir concluir a prova”, conta. Quando passava dos 700 km, o taquariense teve problemas com o taco da sapatilha utilizada no ciclismo e precisou comprar outra. Por volta dos 1000 quilômetros, Diones começou a ter dores no joelho e teve que diminuir o ritmo da prova. “Quando saí do penúltimo Ponto de Controle, km 1176, estava bem ruim já, então saí atrás de um grupo grande devagar. Depois foram sumindo e ficaram dois senhores franceses, que estavam me ajudando, este é o verdadeiro espírito Randouner. Cheguei a tirar um pedal e pedalar uns 10 a 12 km só com um pé, mas tive que colocar novamente, pois começou a doer o outro joelho”, relata.
Os últimos quilômetros da prova foram sofridos para o taquariense. Restando 1h30 para as 84h que ele havia se proposto completar no desafio, faltavam 7 km até a linha de chegada. “Fui muito devagar, sabia que se conseguisse ir girando lentamente completaria. Peguei em uma fita de Nossa Senhora da Assunção, que tenho no guidão, e pedi para não me deixar na mão. Graças a Deus ea Nossa Senhora da Assunção, deu certo. Cheguei pedalando com um pé só”, recorda.
Diones completou a prova em 82h52. Ele também destaca a receptividade dos franceses com os participantes. Os moradores locais ofereceram alimentação gratuita, gritavam palavras de apoio e as crianças corriam para tocar nas mãos dos ciclistas. “Isto não tem preço. Sem contar que pedalamos 1.219 km sem levar um fino de carro, nem caminhão. O cara até estranha. Os carros e caminhões esperam atrás de ti e ultrapassam na outra pista. A maioria das vezes aplaudindo. Muito diferente daqui, que não conseguimos sair até o fim da Aleixo sem levar vários finos”, relata.