Para marcar o Dia das Mães de 2019, o jornal O Fato traz as histórias de colegas de trabalho que compartilham as mesmas experiências. São filhos que cresceram no local de trabalho das mães e, embora não tenham planejado, seguem a mesma profissão, para orgulho delas e troca de aprendizado.
“Sou muito grata a minha mãe”
Quando ainda criança, Nelsi Satiq de Souza, 53 anos, brincava de cabeleireira, embelezando as irmãs e amigas, e não imaginava que, mais tarde, seria sua profissão, nem mesmo que seus passos seriam seguidos pela filha, Luana Nogueira, 28 anos. Enquanto as amigas brincavam de médica e cantora, ela era a cabeleireira. “Eu era quem arrumava o cabelo delas e colocava pétalas nas unhas para fazer unhas postiças”, recorda. Adulta, casou, foi morar no interior, teve os filhos e deixou adormecido o sonho. Até que chegou a oportunidade, e ela não a perdeu. Com o dinheiro de um carro que ganhou no sorteio de uma raspadinha, fez o curso e passou a exercer a profissão, aos 25 anos. Logo que concluiu, começou a trabalhar e, como não tinha babá, os filhos, Luana e o irmão, Henrique, a acompanhavam. Mas Luana não queria ser cabeleireira nem mesmo a mãe desejava isso. “Pela falta de horário, porque ela não queria chegar nos finais de semana com as pernas inchadas, cansada, descabelada enquanto via todos arrumados”, recorda Nelsi.
A filha chegou a cursar um ano e meio da faculdade de Direito, até notar que não era o que desejava e passou a ajudar a mãe no salão. “Ela tomou gosto, assim como eu, ao ver a transformação das pessoas”, explica Nelsi.
Luana considera o caminho percorrido pela mãe fundamental para a sua carreira. “Sou muito grata a minha mãe por ela ter me levado a essa profissão que amo. Hoje, poderiam me pagar uma faculdade de medicina, que eu não faria”, destaca.
Nelsi, que não imaginava que Luana seguisse a profissão, afirma que aprende com a filha. “Tenho o maior orgulho porque sei que faz porque gosta e, hoje, eu aprendo com ela. Me dá uma satisfação muito grande e orgulho. O importante em uma profissão não é trabalhar pelo dinheiro. Cabeleireiro, por muitos, não é visto com uma profissão, mas é uma arte de embelezar as pessoas. Isto me traz muito orgulho porque ela quer ver a satisfação do cliente, como eu gosto”.
“As primeiras fotos foram inspiradas nas que ela fazia”
Neusa Souza de Carvalho, 65 anos, trabalha com fotografia há 35 anos, e é mãe da também fotógrafa Fernanda Souza de Carvalho, 40 anos, na profissão há 16 anos. Neusa começou na fotografia para acompanhar o esposo, Eraldo, que tinha um estúdio. Ela trabalhava na área estética, mas fazia algumas fotos em momentos de emergência. Passou a dar mais atenção à atividade e assumiu a função quando tinha os filhos pequenos. Buscou se qualificar e se dedicou à área de fotos artísticas. “Para mim, era como se recarregasse as energias”, comenta Neusa.
Fernanda era a modelo das ideias de Neusa para fotos. “A mãe inventava um fundo novo e umas roupas novas, a cobaia era eu. Nunca me passou pela cabeça. Sonhava em ter uma academia de dança e iniciei a faculdade de educação física”, conta. Desde os 16 anos, Fernanda trabalhava com a família na loja, vendendo filmes e entregando fotos de eventos. Quando surgiram as fotos de books externos, teve uma ocasião em que os pais foram para a praia, ela, sem nunca ter lidado com as regulagens da câmera, decidiu fotografar uma colega. A ideia deu resultado. Os pais de Fernanda gostaram, colocaram as fotos na vitrine e as pessoas passaram a prestigiar o trabalho. Então, ela pegou gosto, começou a fazer cursos, e a fotografia tornou-se a sua profissão. “A experiência dela (da mãe) serviu muito. As primeiras fotos foram inspiradas nas que ela fazia, claro que com o meu olhar, transferindo o que era meu para a minha foto. Mas o pouquinho de conhecimento que eu tinha, via a minha mãe fazer”.
Hoje, a filha é motivo de inspiração para Neusa. “É um prazer e uma alegria até porque ela faz um trabalho muito bonito, muito além do meu. Sempre aprendo com ela e brinco, quero ser como tu quando eu crescer. Ela tem mais sensibilidade do que eu. Admiro muito o trabalho, falo da profissional, sou muito crítica, neste sentido”, aponta Neusa.
“Sempre aprendo um pouco mais”
A fisioterapeuta Adriana Arnt Brito, 49 anos, iniciou faculdade quando poucas universidades ofereciam o curso e havia poucos profissionais no mercado. “Resolvi fazer porque sempre gostei da área da saúde e do cuidado com as pessoas, além de reabilitar e reinseri-las nas suas atividades cotidianas. Era uma área que me agradava e via que tinha competência para isto”, aponta Adriana.
Mãe de Pedro Brito Lima, 30 anos, ela não imaginava que ele seguiria a mesma carreira. “Nunca pedi para ele cursar fisioterapia, mas o Pedro se criou sempre junto comigo, fazia o tema da escola no consultório. Quando era pequenininho, tropeçava nos pés dos pacientes porque chegava a mil por hora. Hoje penso que ensinamos mais pelo exemplo do que pela palavra. Tudo o que tu mostras durante a tua vida, os filhos vão ser iguais”, avalia.
A vontade em atuar na área da saúde levou o filho à mesma profissão. “A área da saúde sempre me interessou porque é um trabalho em que se consegue ver o retorno das pessoas; dá o combustível que, às vezes, o dinheiro não paga”, diz.
Ele tentou o vestibular para medicina e fisioterapia, sendo aprovado neste último, no qual colou grau em 2013. Durante a faculdade, executou os estágios na clínica da mãe e após a formatura, trabalhou por três meses até ir morar fora do Brasil. “Um ano depois, fui visitá-lo e lá encontrei o Pedro fazendo fisioterapia a domicílio. Ele saiu de Taquari para fazer o que eu faço todos os dias. Isso vem confirmar muito mais aquilo que eu fazia. Eu me enxergava nele”, comemora Adriana.
Pedro considera um privilégio seguir o caminho da mãe. “Sou um colaborador do serviço dela, o que é muito bom porque, como tem 25 anos de experiência, sempre tem um jeito e uma instrução, e sempre aprendo um pouco mais, um jeito mais fácil de fazer as coisas”, avalia.