Ontem, 18 de outubro, foi comemorado o Dia do Médico. Para lembrar a data, o jornal O Fato Novo entrevistou o médico clínico-geral Eliseu Barros Coelho, que deu sequência à atividade profissional do pai.
Cursou o primeiro e o segundo graus nos Colégios Anchieta e Rosário, em Porto Alegre, e concluiu a graduação em Medicina em 1964. Exerceu a profissão inicialmente em Paverama, de fevereiro de 1965 a junho de 1966, quando transferiu-se para Taquari. Com 50 anos de atuação, a maior parte da atividade profissional foi desenvolvida neste município, onde se estabeleceu por “casualidade”, como define.
Sobre a profissão, “é uma experiência apaixonante e que se renova diariamente, trazendo uma confortante satisfação, tanto nos bons como nos maus momentos”.
OFN – Por que decidiu ser médico?
Adquiri cedo o hábito da leitura e aprendi a usá-lo como forma a satisfazer a curiosidade natural da idade. Meu pai graduou-se em Medicina no final dos anos 20 e consolidou sua formação em Paris durante dois anos. Ao falecer em 1945, mamãe conservou cuidadosamente grande número de seus livros, a maioria editados na França. Pelos 12 ou 13 anos, tive acesso aos mesmos e com auxilio de dicionário, tentava “traduzir”seus conteúdos. Por essa época já ouvira muitas histórias acerca de sua atuação como médico interiorano e, posteriormente, em Porto Alegre a partir de 1941. Não tenho dúvidas do que isso foi determinante para a escolha que faria no futuro.
OFN – Por que escolheu Taquari para morar e trabalhar?
“Por mera casualidade. Um colega em última hora desistiu de assumir em Paverama compromisso com o hospital do então distrito e aceitei o convite em seu lugar. Após pouco mais de um ano, com a saída do Dr. Ciro Lobato do nosso hospital, finquei pé por aqui”.
OFN – Nesta trajetória de cinco décadas de trabalho como médico, quais foram as maiores alegrias?
“A atividade médica representa um desafio ao desconhecido, principalmente nos primeiros anos de atividade. É uma experiência apaixonante e que se renova diariamente trazendo uma confortante satisfação, tanto nos bons como nos maus momentos”.
OFN – E as dificuldades? Como foi trabalhar com a falta de tecnologia para auxiliar nos diagnósticos?
“Não são tão difíceis como possa parecer. Nos anos 60 e pouco mais, tendo um laboratório disponível, acesso a exames radiológicos e apoio hospitalar, um atendimento básico de boa qualidade podia ser feito. As ferramentas disponíveis eram estas”.
OFN – Atualmente, quais são os maiores problemas que chegam no consultório atualmente?
“Sob o ponto de vista clínico, inexistem “problemas”. No atendimento básico, o médico deve estar capacitado a resolver 85% dos casos. As dificuldades aparecem com os restantes 15%, pela insuficiência do sistema de saúde, principalmente estatal: consultas com especialistas, marcação de exames,vagas hospitalares, UTIs, emergências. É aqui onde iniciam os maiores problemas da assistência à saúde.”
OFN – Você se utiliza, basicamente, dos recursos tecnológicos para dar o diagnóstico ou, pela experiência profissional, consegue indicar, saber o que o paciente tem, com avaliação em consultório?
“Impossível o desempenho profissional sem tecnologia. O que não se admite é o uso abusivo da mesma por várias e múltiplas razões”.
OFN – Como é hoje lidar com o paciente do Dr. Google, que busca respostas médicas para sintomas, busca remédios, entre outros, na internet?
“Sem nenhuma dificuldade. É difícil ao leigo lidar com informações que nem sempre consegue processar e por isso mesmo faz aumentar o seu nível de ansiedade. Acaba por procurar o atendimento disponível”.
OFN – Na sua opinião, ciência e espiritualidade andam juntas? A fé pode fazer a diferença na cura de doenças?
“Tema sempre aberto a todas as opiniões. Entendo fé como um sentimento que nos leva a crer de modo incondicional, às vezes até irracional, na busca daquilo que pareça distante ou inalcançável. Ter fé significa acreditar, ter esperança. Não vejo ciência ou fé como princípios excludentes”.