A dissertação de mestrado do biólogo Elizandro Oliveira Silveira, 40 anos, virou livro em 2018. A pesquisa desenvolvida na área de tratamento de efluentes líquidos (esgoto) com a utilização de microalgas e wetlands construídos, plantas típicas de banhados, foi pioneira no mundo e chamou a atenção de uma editora alemã e uma brasileira. A proposta, que foge da utilização de produtos químicos, usualmente aplicados no tratamento de esgoto, foi adaptada ao formato de livro, vendido em países da Europa e Ásia, desde março deste ano. Na semana passada, o livro também foi lançado no Brasil.
Além de Elizandro, outro taquariense participou da pesquisa, o professor Ênio Leandro Machado, doutor em Engenharia Química pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), orientador durante o desenvolvimento do mestrado. Segundo Elizandro, a proposta do livro surgiu em 2017, após publicar artigo em uma revista científica da Alemanha, considerada de ponta na área. “Eu recebi o convite por e-mail, onde os custos seriam todos pagos por eles, a mim bastaria adaptar o texto para o formato de livro”, conta Elizandro. A publicação é comercializada desde março em diversos países da Europa e Ásia, com foco no meio científico, ao valor de 49,90 euros.
De acordo com o taquariense, como o custo para importar a obra publicada no exterior ficaria em torno de R$ 360,00, considerando o frete, uma editora brasileira o procurou para publicar a pesquisa no país. O lançamento ocorreu na semana passada, durante a 18° Feira Literária Internacional de Paraty (FLIP), no Rio de Janeiro, uma das maiores da América Latina. “É uma tempestade de sentimentos bons, saber que meu trabalho foi bem feito e está sendo reconhecido. Faz quatro anos que dei uma repaginada na vida e passei a me dedicar ao trabalho na academia. É o que eu amo fazer e o resultado está sendo formidável, fantástico, e eu não estou falando em resultado financeiro, porque, no meu caso, o que mais quero, mais prezo, é ajudar as pessoas, ajudar a criar soluções ambientais que realmente façam diferença no mundo”, disse o taquariense.
A pesquisa
Desenvolvido na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), o tratamento de efluentes líquidos combina a utilização de microalgas nativas do Rio Grande do Sul, geralmente utilizadas na produção de bioprodutos como biodísel e cosméticos, e wetlands construídos, plantas típicas de áreas alagadas com algum tipo de contaminação orgânica, banhados e córregos próximos a granjas de arroz. No modelo de tratamento, a parte líquida do esgoto passa por pré-tratamento através de um Reator Anaeróbio, onde estão microrganismos (bactérias) que começam a atuar na descontaminação da água; segue para tanques, em que as microalgas passam a agir, e, posteriormente, passam pelas plantas (wetlands), que finalizam o tratamento antes dos efluentes serem reutilizados ou conduzidos aos corpos hídricos, como arroios, riachos e rios. Segundo Elizandro, estes micro-organismos, microalgas e plantas absorvem, para seu crescimento, carbono, fósforo e nitrogênio, elementos que precisam ser removidos durante o tratamento do esgoto.
A proposta mostrou-se bastante promissora e é uma das primeiras no mundo a combinar as duas tecnologias, oferecendo uma alternativa natural de tratamento que reduz significativamente a utilização de produtos químicos, comumente utilizados no tratamento de efluentes. “Nós conseguimos resultados excelentes associados a um baixíssimo custo de construção e operação do sistema integrado. E, através de testes de genotoxicidade, utilizando sementes de cebola e microcrustáceos, comprovamos que este tratamento não causa nenhuma alteração celular, enquanto outros tratamentos testados mostraram alguma alteração, mesmo que pequena”. De acordo com o taquariense, o modelo de tratamento sustentável proposto pode ser aplicado em diversos locais, como empresas, propriedades e universidades.
Durante seu doutorado, que deve ser concluído em 2021, Elizandro dará seguimento à pesquisa de tratamento de efluentes, buscando aprimorar o modelo. “O projeto agora irá propor um ganho energético e econômico durante o doutorado, que está sendo realizado no Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH), na Ufrgs. A ideia é comprovar a eficiência do sistema integrado e propor a substituição do sistema convencional para tratamento em larga escala, como municípios e grandes empresas.
O autor
Elizandro é formado em Biologia pela Unisc, tem pós-graduação em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pelo Centro Universitário Internacional (Uninter), mestrado em Tecnologia Ambiental pela Unisc e cursa doutorado em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Há quatro anos, deixou seu serviço público nos Correios e passou a se dedicar integralmente à vida acadêmica, sendo que, além de sua formação, atua como professor no polo a distância da Uninter em Venâncio Aires. É casado com Raquel Pereira Sarmento e pai de Elisa Sarmento Oliveira, de 3 anos.