A ausência dos desfiles da Batutas da Orgia e Irmãos da Opa enfraqueceu drasticamente o movimento no Carnaval de Taquari. Com a falta do atrativo e de infraestruturas como passarela do samba, arquibancadas, iluminação e praça de alimentação, o público não compareceu ao Centro, como de costume, e a rua 7 de Setembro ficou praticamente deserta. A folia no município foi mantida apenas nas festas no Alvi Negro e nas turmas, que reuniram cerca de 700 integrantes e movimentaram mais de R$ 100 mil na estrutura de suas concentrações.
Os blocos que fizeram parte do Carnaval deste ano foram Barraca Armada, Kbaços, Mutchatchos De La Ceva, Unidos da Baixada e Vem Quem Quer. Eles desfilaram na noite da última segunda-feira, no entorno da Praça Matriz, até a Lagoa Armênia. A falta de público para prestigiar o desfile, mudou o tradicional roteiro de descida na 7 de Setembro.
O maior número de integrantes foi na Kbaços, que teve 330 pessoas em sua concentração, no prédio do El Granero, na rua Osvaldo Aranha. Segundo a presidente Fô Machado, a turma movimentou R$ 60 mil em 2020, entre camisetas, bebidas, aluguel, decoração, segurança, garçom, limpeza, som e luz, além de hospedagem e alimentação de integrantes que vêm de outros municípios. A jovem também salienta que não foram registradas brigas na concentração. Segundo a presidente dos Kbaços, a turma enfrentou resistência para organizar sua concentração neste ano, por conta do preconceito e mentiras que inventam sobre os blocos. “A grande maioria não faz a mínima ideia do quanto de dinheiro movimentamos. A verdade é que muita gente não apoia, mas diretamente ou indiretamente acaba ganhando sim com as turmas que elas tanto desprezam. O Carnaval para os Kbaços foi ótimo, porém não há dúvidas de que o Carnaval de rua fez falta”, considerou.
A Mutchatchos De La Ceva foi a segunda concentração com maior número de pessoas. Com cerca de 200 integrantes, eles se reuniram em uma estrutura montada na rua Cônego Cordeiro, em frente à Praça Matriz. A turma movimentou R$ 35 mil em sua concentração. Um dos organizadores dos Mutchatchos, Bruno Staconviti, relatou que o Carnaval 2020 superou as expectativas do grupo. “Todos esperavam um movimento extremamente fraco devido a não termos Carnaval de rua, mas foi um Carnaval alucinante e com sabor de quero mais. Foi um Carnaval muito tranquilo, sem nenhum transtorno, e que tivemos sempre apoio da Brigada Militar. Já estamos ansiosos para o próximo ano”, disse.
A turma mais antiga do município, a Barraca Armada, teve 120 integrantes em cinco dias de festa na sua concentração, na Praça da Bandeira. Foram movimentados cerca de R$ 10 mil com a aquisição de camisetas, bebidas, comida, som e luz. Para a presidente Maria Reis, as turmas conseguiram se organizar, mesmo sem muitos recursos, para não deixar morrer o Carnaval do município e confirmou a presença da Barraca Armada para a folia do próximo ano. “Gostaríamos muito que, em 2021, as escolas de samba da nossa cidade se organizassem para fazerem a festa assim como as turmas. E, como sugestão, que a prefeitura pudesse inserir mais o Carnaval no ano cultural da cidade, dar mais espaço e incentivo às turmas. Sentimos falta das pessoas nas ruas prestigiando as turmas, que fizeram o Carnaval de Taquari acontecer”, disse.
A Unidos da Baixada contou com 35 participantes em 2020, na concentração na rua José Antero Siqueira, onde começou a turma. De acordo com a integrante, Alana Pereira, o Carnaval para a turma foi muito bom. “Nos reunimos, fizemos nossa programação, mas sentimos falta dos desfiles de rua, da estrutura e iluminação da rua 7. Nosso desfile foi muito bom, reunimos amigos e conhecidos e fizemos uma ótima participação, com bateria, puxadores e uma galera animada”, contou.
Outra turma que participou da folia e animou o desfile de segunda-feira foi a Vem Quem Quer. O grupo que se reúne na sede dos moradores do bairro Caieira trouxe bateria, puxador de samba e porta-bandeira para a apresentação, com cerca de 90 integrantes e movimento em torno de R$ 2,5 mil. Para um dos organizadores, Edson Silva, o Carnaval de Taquari precisa melhorar em 2021. “Achamos a estrutura precária, falta de iluminação e apoio por parte da prefeitura. Acredito que o próximo prefeito olhe com mais carinho e interesse para a juventude que gosta de curtir o Carnaval em Taquari”, considerou.
Visitantes curtem o Carnaval dos blocos
A moradora de Porto Alegre, Mariana Kühn, 31 anos, e outros três amigos participaram pela primeira vez do Carnaval de Taquari. Ficou encantada com o alto astral da festa e considerou ótima a organização da concentração e bailes de salão. Os pontos altos da folia para ela foram o desfile das turmas, embora tenha ficado decepcionado com o número de espectadores, e as festas da Tchamba, no Grêmio Recreativo Alvi Negro, onde também destacou a segurança com revista na entrada e higiene dos banheiros. “Não vejo isso em nenhum lugar em Poa”, contou.
Mariana relatou que o grupo teria vindo em número maior, não fosse a dificuldade de encontrar uma casa ou apartamento para alugar nos dias de Carnaval em Taquari. “Só achamos uma possibilidade e que acomodava no máximo quatro pessoas. Se não teríamos pilhado mais amigos para irem e tenho certeza que o sentimento deles seria o mesmo que o nosso: voltaremos. É um modelo de diversão muito legal e que nunca tinha vivenciado. Acho que é aquele tipo de atividade cultural que não pode deixar morrer, uma tradição local. Me chamou atenção que tinham pessoas de todas as idades: dos mais jovens aos mais velhos e todos numa mesma sintonia da diversão. Honestamente, foi o melhor Carnaval da vida! Não vi uma briga! E a organização foi impecável”, relatou.
Para Maneco, a prefeitura não pode arcar com todas as despesas do Carnaval
A falta das escolas de samba na avenida em 2020, mais uma vez, se deu pela escassez de recursos públicos para o desfile. As sociedades carnavalescas Batutas da Orgia e Irmãos da Opa alegaram que, com os R$ 6 mil oferecidos pela prefeitura às escolas, não era possível realizar os desfiles. Segundo as entidades, os custos são em torno de R$ 30 mil. As escolas chegaram a receber, em 2012, durante o Governo Ivo Lautert, R$ 22,5 mil para cada uma. Além dos desfiles, há despesa da infraestrutura do evento, que fica por volta de R$ 100 mil. “Hoje, a prefeitura não tem como bancar todas as despesas do Carnaval. A volta dos desfiles depende mais das escolas do que da prefeitura, tanto que as turmas fizeram sua festa, seu desfile, seu Carnaval, o Alvi Negro tava legal. A gente precisa se organizar para viabilizar o retorno das escolas”, disse o prefeito Maneco, ressaltando que este é o cenário atual do governo e que, no ano que vem, não estará na prefeitura e a situação pode estar diferente.