Tanto pela rede pública, quanto pela privada, é difícil conseguir atendimentos em determinadas áreas da saúde, como fonoaudiologia e terapia ocupacional. Taquari tem poucos profissionais disponíveis e os que têm estão com agendas lotadas. Os serviços são requeridos, principalmente, para pacientes com autismo ou outros transtornos do desenvolvimento, como hiperatividade, dislexia e déficit de atenção.
A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), que atua há mais de 55 anos em Taquari oferecendo atendimento especializado, tem uma fila de espera de cerca de 30 pessoas aguardando vaga nas mais diversas especialidades. “A maior demanda atualmente é para as áreas de fonoaudiologia e terapia ocupacional. Inclusive a Apae ficou, em 2024 sem, o serviço de fonoaudiologia por falta de profissional”, contou a diretora Nilvana Lazarini Machado.
Para a diretora da Apae, é preocupante a dificuldade de inserção da criança em terapias que impulsionem seu desenvolvimento. “Uma criança com dificuldade de desenvolvimento necessita constantemente de mediação correta para superar estas lacunas impostas pela deficiência”, observa, salientando que também são essenciais as orientações passadas aos familiares para que possam realizar mediações adequadas no dia a dia da criança.
Para 2025, a Apae conta com equipe técnica composta por assistente social, psicóloga, fonoaudióloga, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, estimuladora precoce e pedagogos (Atendimento Educacional Especializado), todos profissionais residentes em Taquari. São oferecidas em torno de 120 vagas semanais nestas áreas, sendo todos os atendimentos gratuitos para o paciente. Os serviços são financiados por parcerias públicas, privadas e recursos próprios de doações ou promoções.
Associação Pequenos Notáveis atende a cerca de 30 crianças
Há 11 anos, um grupo de mães criou a Associação Pequenos Notáveis, com o objetivo de unir esforços para conseguir mais atendimentos e terapias para estimular o desenvolvimento de seus filhos.
Atualmente, com sede no bairro Coqueiros, a entidade atende a cerca de 30 crianças, oferecendo equoterapia com fisioterapeuta e psicóloga, e atendimentos em consultório com fonoaudióloga, nutricionista, psicóloga, fisioterapeuta, psicopedagogo e terapia com sons. Há vagas de atendimento somente para psicóloga na equoterapia. Na fonoaudiologia, é esperado início de um novo profissional em fevereiro e, caso se confirme, haverá algumas vagas. Hoje, a associação não conta mais com atendimento de terapia ocupacional, por não encontrar profissional disponível.
O serviço é prestado a membros da entidade, cujos pais realizem algum tipo de trabalho voluntário, como atendimento no brechó aos sábados ou auxílio na limpeza e manutenção do prédio, e que ajudam nas vendas de calendários e promoções. Também é cobrada taxa de R$ 20 aos associados. “A minha fila de espera é de dois ou três das próprias famílias que já estão na associação, para fazerem alguma outra terapia que necessitem. Eu não tenho nenhum de fora em espera, pois infelizmente a maioria das famílias não quer ter esse compromisso com a associação”, conta a presidente da Pequenos Notáveis, Lisiane Borba.
Ela relata que a contrapartida dos pais é exigida, pois, além da associação precisar do voluntariado para se manter, há um comprometimento maior da família no tratamento. Segundo a presidente da associação, quando o serviço voluntário não era exigido, havia muita falta nas consultas. Atualmente, se houver três faltas não justificadas com atestado durante o ano, o paciente perde o direito à terapia na entidade. “Pagamos quase que o valor particular de consultório para os terapeutas, para termos um serviço de qualidade e, se as famílias começam a faltar, a gente está pagando para o terapeuta estar lá, parado”, explica.
Para a presidente da Pequenos Notáveis, há muito o que se avançar em relação à oferta de atendimentos e inclusão das pessoas com deficiências em escolas, hospitais, entre outros espaços públicos. “Tem muita coisa para se fazer neste sentido, falta muita informação. Muitas famílias não têm conhecimento, não têm recurso e o que será dessas crianças daqui a algum tempo, sem nenhum atendimento, sem nenhuma terapia, se tornam a ter muito mais dificuldades?”, aponta.
Conselho Tutelar recebe muitas reclamações sobre a espera por atendimento
A principal dificuldade do trabalho do Conselho Tutelar de Taquari atualmente está em intermediar atendimentos às crianças e adolescentes que necessitem de neurologista, psicólogo, psicopedagogo e fonoaudiólogo. O serviço é essencial tanto para a área da saúde, quanto para a educação, já que o laudo médico é o que possibilita atendimento especializado e profissionais de apoio nas escolas.
A demora para conseguir consultas nestas áreas já foi retratada pelo Conselho Tutelar, em matéria realizada por O Fato na semana passada. “Existe uma cobrança intensa ao Conselho Tutelar por parte dos pais e, muito por parte das escolas, que solicitam atendimento urgente para determinados alunos, pelo fato de não conseguirem mantê-los no ambiente escolar. Esta demora acaba por afastar o aluno da escola. Tal situação deixa o Conselho em constante alerta, pois o órgão é protetor e zelador dos direitos da criança e do adolescente e deve garantir que os mesmos sejam assegurados e supridos”, informou o Conselho Tutelar a O Fato na matéria publicada em 7 de fevereiro.
Prefeitura diz que zerou fila para atendimentos psicológicos
A administração municipal disse que manifestou interesse em aderir ao TEAcolhe RS, sendo que a proposta técnica foi encaminhada ao Estado. O programa visa a dar suporte do Estado para criação de centros especializados em autismo.
Sobre o serviço de fonoaudiologia, a Prefeitura informou que o atendimento é feito no Posto do Rincão, mediante encaminhamento da rede e que, para Terapia Ocupacional, não há disponibilidade de profissional neste momento.
Em relação à neurologia e psicologia, a demanda, de crianças e adolescentes até 16 anos, da secretaria da Saúde é encaminhada aos profissionais terceirizados que trabalham para as secretarias de Educação e Assistência Social. Após triagem, os encaminhamentos são feitos aos demais psicólogos contratados e ao neurologista. “Cabe salientar que a fila de espera por atendimento clínico psicológico foi zerada. Além do quadro efetivo de servidores do município, são quatro psicólogas terceirizadas prestando o serviço. Há demora no atendimento de pacientes que precisaram de atendimento fora da rede do município, mas a secretaria da Saúde já está buscando uma forma de resolver a questão”, informou a Prefeitura.