A campanha de vacinação contra a poliomielite, conhecida como paralisia infantil, deve ser encerrada nesta sexta-feira, 30 de outubro, e Taquari não conseguiu imunizar nem a metade das crianças do público-alvo.
Destinadas a pequenos de um ano a cinco anos incompletos (4 anos, 11meses e 30dias) dados até o meio-dia da quarta-feira, 28, mostram que apenas 47,09% da meta foi atingida. Ou seja, das 1.287 crianças nesta faixa etária, 600 foram imunizadas. A paralisia infantil é uma doença contagiosa, causada por um vírus que pode ocorrer em crianças e adultos, provocando a perda dos movimentos, em geral do membros inferiores (pernas).
Taquari ocupa a antepenúltima posição entre os 37 municípios da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) na imunização contra a pólio, atrás de Estrela, com 32,93% de cobertura do público-alvo, e Cruzeiro do Sul, com 39,83%. Lajeado vacinou 57,60% e também não atingiu a meta mínima preconizada pelo Ministério da Saúde, de 95%. Apenas oito municípios alcançaram a meta de 100%: São Valentim do Sul, Capitão, Pouso Novo, Poço das Antas, Coqueiro Baixo, Doutor Ricardo, Bom Retiro do Sul e Imigrante.
Para ampliar o alcance da campanha de imunização, a secretaria municipal da Saúde de Taquari intensificou algumas ações no município, disponibilizando, nesta semana, doses em todas as unidades de saúde; fazendo a aplicação da vacina no Loteamento Junior na terça-feira, 27, e abrindo a unidade do bairro Leo Alvim Faller no último sábado. Para o próximo final de semana, haverá uma equipe de vacinação na Praça da Bandeira para imunizar quem passa pelo local, seja a pé ou de carro, na modalidade drive-thru, das 9h às 12horas e das 13h às 17horas.
Entre os motivos para um percentual tão baixo de imunizados contra a paralisia infantil, estão a pandemia de coronavírus e a suspensão das aulas, além das notícias falsas e a desinformação. Com a pandemia, técnicos da Saúde acreditam que a população está com receio de ir até as salas de vacina. A suspensão das aulas, principalmente nas creches, reduziu o alcance do serviço de saúde, pelo menos em Taquari, que antes ia até as escolas e distribuía as gotinhas.
Outras vacinas também com baixa cobertura
Durante o mês de outubro, além da vacinação da poliomielite, ocorre a multivacinação, ou seja, campanha para atualização das demais vacinas do calendário nacional de imunizações.
Em Taquari, como ocorre no país, os percentuais de vacinação vêm caindo. Dados de janeiro a 28 de outubro de 2020, mostram que foram aplicadas 7.838 doses de vacinas. No mesmo período de 2019 foram 8.115 doses.
A cobertura da DTPa (Difteria, tétano e coqueluche – tríplice bacteriana acelular) está em 41,28%, o mais baixo entre as vacinas disponibilizadas no Programa Nacional de Imunização (PNI), do nascimento aos 19 anos. As doses são aplicadas aos 2, 4 e seis meses. No ano passado, já foi registrado um percentual baixo, 46,5% de imunizados do público-alvo.
Outra vacina que está com baixa cobertura é a do sarampo, que já foi considerado erradicado no Brasil, em 2016, mas que voltou a registrar casos em 2018 e já causou sete mortes neste ano no país. Em Taquari, em 2019, foram 82,31% do público-alvo imunizado com a Tetra Viral, que atua contra o sarampo, caxumba e rubéola (SCR) combinada à varicela. Em 2020, faltando dois meses para encerrar o ano, a cobertura está em 64,07%.
Unidade do Leo Alvim Faller segue sem sala de vacina
A Unidade de Saúde do bairro Leo Alvim Faller segue sem sala de vacina. Ainda é necessário adquirir a geladeira para armazenar as doses e é preciso capacitar o profissional que atuará na sala de vacina. Conforme a coordenadora da atenção básica, enfermeira Andreia Oliveira, a previsão era de colocar em funcionamento no início deste ano, mas em decorrência da pandemia, os profissionais foram remanejados para atender a demanda do coronavírus e não foi possível capacitar a vacinadora. Ela explica que para trabalhar nesta função é necessário um perfil adequado o que é difícil de encontrar, além de estar bem preparado. Uma pessoa chegou a ser contratada, treinada, mas não ficou na rede de assistência. A previsão é para março de 2022. A sala de vacina da unidade está desativada desde janeiro de 2017. Em Taquari, há salas de vacina apenas nas unidades dos bairros Colônia 20, Central e Praia.
As vacinas são fornecidas pelo Governo do Estado e, em alguns períodos, ocorre indisponibilidade nas unidades.
Ações para elevar índices da vacinação contra poliomielite:
1- Carro de som nas ruas para mobilização da população.
2- Vacinação no Esf Léo Alvim Faller, em 24 de outubro, sábado, para a comunidade local .
3- Vacinação de 26 a 30 de outubro em todos os postos.
4- Busca ativa nos bairros de forma individual .
5- Ações em algumas áreas específicas (vacinação extra muros), como na sede do Loteamento Junior, na tarde da terça-feira, 27 de outubro.
6- Drive Thru na Praça da Bandeira, no dia 31 de outubro, das 9h às 12h e das 13h às 17h.
“É preciso ter as coberturas vacinais altas para proteger a coletividade”
A Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm)lançou, em junho, a campanha “Vacinação em dia, mesmo na pandemia”, para conscientizar especialistas e o público em geral sobre a importância de não adiar a vacinação por causa do novo coronavírus.
No site https://sbim.org.br/acoes/vacinacao-em-dia há mais informações sobre a importância da vacinação.
O presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBIm) , Juarez Cunha, diz que a pandemia de coronavírus contribuiu para uma queda maior nas coberturas vacinais, já observada há alguns anos no Brasil. O medo das pessoas de irem até as unidades de saúde e a orientação de isolamento e distanciamento social impactaram mais negativamente nas coberturas que já estavam ruins. “Todas as sociedades científicas, a sociedade de pediatria, Unicef, Ministério da Saúde, Organização Mundial da Saúde (OMS), têm chamado a atenção, porque não está acontecendo só no Brasil, ocorre em outros países por causa da pandemia, dos riscos que a gente está ocorrendo, em especial, com as doenças que podem ser evitadas por vacinas seguras, eficazes e gratuitas. Temos que estimular a população a levar os seus filhos a se vacinarem na campanha de pólio oral e de multivacinação, para crianças e adolescentes até 15 anos. É preciso ter as coberturas vacinais altas para proteger a coletividade”, destaca. Ele salienta que as unidades de saúde estão preparadas para receber a todos com segurança e o recomendado é que as pessoas usem máscara, façam a lavagem de mãos e o uso do álcool em gel e evitem aglomerações.
O presidente da SBIm alerta para o risco da reintrodução de doenças eliminadas e o retorno de várias outras controladas, como o sarampo. O Brasil recebeu, em 2016, o certificado de eliminação da doença, mas, em 2018, foram notificados novos casos, que continuam acontecendo. Em 2020, são mais de dois mil casos da doença no país e sete óbitos. “O que aconteceu com o sarampo pode acontecer com qualquer outro, inclusive com a pólio.”
O fato de as gerações mais recentes estarem há muito anos sem ver ocorrências dessas doenças gera uma falsa sensação de segurança. “Apesar de o último caso de pólio ter sido registrado apenas em 1989, é um dos motivos para as baixas coberturas, essa sensação de segurança que as pessoas têm porque são doenças que os jovens, os pais de 20 a 40 anos não viram, não conheceram, porque não fez parte da vida deles, mas exatamente porque a vacina conseguiu eliminá-las”, destaca.
Cunha considera a cobertura de 40% de imunizados muito baixa. “Significa que de cada 10 crianças, só quatro estão com a vacina pólio aplicada na campanha ou em dia.”
Outro motivo para a queda na cobertura são a desinformação e fake news (notícias falsas). Estudo realizado pela SBIm, no ano passado, mostrou que, de cada 10 brasileiros, sete acreditam em informações falsas sobre vacinas. “E, infelizmente, agora em 2020, com o assunto que está sempre circulando em relação à vacina de covid-19, isso tem levado a uma desconfiança cada vez maior da população. Temos notícias que acabam se tornando mais de questionamento, embate, mais política do que científica e isso não vai atrapalhar só as prováveis vacinas de covid-19, mas também as coberturas atuais de vacinas que a gente já usa há 30, 40 ou 50 anos, que são seguras e eficazes”, afirma.
As vacinas Programa Nacional de Imunização, destaca Cunha, já foram demonstradas com segurança e eficácia. “Vacina é essencial. Não podemos correr o risco de impactar a nossa rede de saúde, já bastante impactada pela covid-19, com outras situações que podem ser prevenidas.” Ele alerta também para o impacto que poderá ocorrer com a volta às aulas, o que aumenta a possibilidade de doenças que estavam mais controladas, até pelo isolamento, retornarem. “Não é só covid-19 que a gente tem que se preocupar, tem que se preocupar com tudo.”
O que é a paralisia infantil ou poliomielite
É uma doença contagiosa,causada por um vírus, por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca das pessoas doentes e provocar ou não paralisia. Nos casos graves, em que acontecem as paralisias musculares, os membros inferiores são os mais atingidos. A vacinação é a única forma de prevenção. Como resultado da intensificação da vacinação, no Brasil não há circulação de poliovírus selvagem (da poliomielite) desde 1990.