Quem passa pela BR 386, em Tabaí, e vê as orquídeas à venda, com cerca de 40 centímetros de altura, não imagina o tempo necessário para a planta alcançar este tamanho. Também muitos não fazem ideia de que elas são cultivadas bem próximo dali.
No sítio do Vô Chico, no Km 381 da rodovia, uma estufa de 510m² guarda centenas de mudas de diversas variedades de orquídeas. Elas são de propriedade do orquidófilo Aldoir Silveira D’Ávila, 48 anos, que divide os cuidados com a esposa, Maria Lurdes Cardoso Pereira, e o enteado Francisco Pereira de Jesus.
Aldoir conta que tem outras duas estufas na propriedade do pai, também em Tabaí, e que cuida das orquídeas há 15 anos. No total, são 25 mil plantas adultas. Quanto ao número de espécies, diz que até cinco anos atrás eram 500. “Depois consegui outras e perdi as contas”, comenta.
Ele ainda tem a primeira variedade que iniciou o orquidário. É a Lélia porpurata. Para ele, não há espécie difícil de conseguir, porque busca a a matriz da que deseja em São Paulo.
A variedade Cymbidium é que possui em maior quantidade. Para cultivá-la, porém, são necessários carvão e semente de uva. “São 70% de sementes de uva”, acrescenta.
A mais difícil de cultivar é a Phalaenopisis, mas ele tem apenas um exemplar porque a temperatura ideal é de 20º C. “Em São Paulo, eles produzem porque, se no inverno tiver 0º C, dentro da estufa tá 20º C. No verão, se tiver 50º C na rua, dentro elas estão com 20º C. Então pra nós aqui não adianta. Olha as folhas das outras aqui”, compara.
A espécie mais rara que Aldoir possui é a Catleya Rinchocaelia Digliana. Na estufa há apenas cinco exemplares. Elas são originárias da Ásia e custa de R$ 1,2 mil a R$ 1,5 mil. “Não é fácil de fazer a semente. Dá para aumentar o número de mudas”, salienta.
Já a orquídea Vanda não é exigente. Nem de terra ela precisa. O vaso é vazado e é necessário aguar duas vezes por dia. A mais comum da região é a Cattleya Intermédia e ele tem uma muda porque achou no mato.
Na estufa também há espécies criadas por Aldoir, como os cruzamentos. O resultado desse trabalho, por exemplo, é a variedade “BLC”, feita através com a Brassávola, a Laelia e Catleias. “Tenho cruzamentos que fiz há cinco anos e agora que tá dando flor”, diz.
Ele fica praticamente o dia todo na estufa, cuidando das plantas. A venda é quase que diária. Por isso, na tarde da segunda-feira, poucas estavam floridas. “O que tiver com flor, vai”, comenta. Os valores vão de R$ 25 a R$ 1,5 mil.
Replantio também é feito na propriedade
Em um laboratório na residência de Aldoir é feito o replantio da orquídea. O enteado de Aldoir, Francisco, é o responsável pelo processo. Em frascos de vidro esterilizados ele faz o repique da planta, colocando as sementes em um composto orgânico com água de coco, água destilada, carvão, tomate, banana verde, variedades de açúcar, tudo na medida certa. “Um vidrinho destes faz 100 dos grandes e ainda tem que colocar muita coisa fora”, destaca Aldoir.
O processo é feito por etapas: dos vidros, as mudas são colocadas em bandejas e depois passam para um vaso pequeno e, à medida que vão crescendo, para os vasos maiores. “Se pegar uma muda pequenininha e colocar em um vaso grande, é a mesma coisa que matar”, explica.
Da etapa do vidro até chegar a vender são necessários cerca de cinco anos. “Tem gente que acha caro pagar R$ 30 por uma muda”, diz Aldoir. “Quem olha pras orquídeas lá na estufa não diz que elas saem daqui (vidro). Tem gente que acha que é muda que vai transplantando”, completa Lurdes.
Ele salienta que a orquídea não é uma planta delicada. Mas, como outras, precisa de cuidados. Aldoir diz que para quem compra, larga dentro de casa e fecha a casa, será difícil ter a planta. “A planta, se souber cuidar, dura para a vida toda. Quando for enchendo o vaso, tem que colocar em outro maior e trocar o substrato que estiver podre, o que pode ocorrer a cada 4 ou 5 anos. Para fazer a muda, tem que ter no mínimo três galhos. Ela quer claridade e ar. Conforme a espécie, quer calor”.