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No Campo do Estado, as coisas começam a voltar para o lugar na propriedade de Eloi Rodrigues de Oliveira, 45 anos. A casa em que residia com a esposa Suelen, 33 anos, e dois filhos foi levada pela enchente de maio, que também destruiu plantações e causou a morte de animais da propriedade. Hoje, a residência da família está sendo reconstruída. “Começamos pela casa, ganhamos todo o material através do Rotary, de doações do município de Santa Rosa, e eu e meus primos estamos fazendo a obra. Quero terminar o mais depressa possível”, contou o colono, que está morando em uma pequena peça de um galpão que ficou preso a árvores durante a enchente.
Morador da localidade desde que nasceu, Eloi não pretende deixar o Campo do Estado, onde também reside sua mãe, Leni Rodrigues Oliveira, 70 anos. “Vou começar tudo de novo. Não adianta parar porque eu não tenho outra coisa para fazer, eu só vivo da roça, não tenho outra profissão, nem carteira profissional. Eu tenho que voltar para o mesmo ritmo de antes. Vai custar a alinhar, mas daqui a pouco as coisas alinham de novo”, relatou.
Esta foi a primeira vez que a água chegou à casa da família. Anterior a isso, a enchente mais próxima da propriedade foi em novembro de 2023, quando atingiu parte da plantação de feijão, mas não inundou a residência.
Um pesadelo no caminho
Motorista de caminhão há um ano, o taquariense Willian Borba, 25 anos, viveu apuros durante a catástrofe de maio. Ele voltava da cidade de Chapecó, Santa Catarina, quando começou a sofrer os impactos das inundações e deslizamentos de terra no Rio Grande do Sul. A primeira obstrução no caminho foi na BR-386, em Soledade. O caminhoneiro acabou dormindo em um hotel da região na noite da terça-feira, 30 de abril, para a quarta-feira, 1º de maio. “De manhã, a agua já estava quase chegando na cabana que eu dormi. Peguei o caminhão para vir embora por outra rota, porque já tinha trancado a ponte de Lajeado e tudo por ali. Fui descendo por Arvorezinha, Doutor Ricardo”, lembra.
Em Encantado, na localidade de Jacarezinho, o taquariense ficou preso entre duas pontes. A que já havia passado teve a cabeceira levada pela enchente e a segunda ponte já estava inundada e não dava mais passagem. “Dali para frente foi só tristeza. Não parava de chover, o vilarejo que tinha perto de nós começou a descer com a água e, entre essas duas pontes, só tinha uma rua em direção ao morro. Colocamos os caminhões para cima e ficamos no alto do morro, escasso de comida, de água. Tinha um pé de bergamota e a gente comeu muita bergamota, foi o que nos salvou ali, a bergamota e a água que tinha no corote do caminhão”, contou Willian.
Na sexta-feira, 3 de maio, pela manhã, a chuva deu uma trégua e foi possível limpar a ponte e, apesar da estrutura já precária, passar um caminhão por vez. Sem sinal de telefone, quando os caminhoneiros conseguiram chegar até um posto de combustível, souberam que a ponte de Arroio do Meio também havia caído. Sem passagem novamente, acabaram dormindo na abastecedora.
No sábado, 4, os motoristas ilhados foram em direção a Roca Sales, porém a avenida próxima a JBS também havia sido levada pela água. “Estavam fazendo uma avenida, com terra, uma coisa bem bruta. Esperamos o pessoal acabar. Na madrugada de sábado para domingo eu nem consegui dormir. Fui o primeiro da fila para tentar vir embora. Disseram que caminhão não passaria, mas eu consegui chegar até a beirada e a máquina me puxou. E dali, graças a Deus, foi um alívio, eu consegui vir embora”, relata.
Mesmo após o sufoco, o caminhoneiro não pensa em deixar a profissão e já voltou para as estradas.
