No interior, estiagem começa a causar escassez de água para os animais

As chuvas desta semana pouco amenizaram a situação da seca no setor rural. Em localidades distantes do rio, produtores estão apreensivos com a possibilidade de falta de água para cavalos e gado.

Na propriedade de Aluísio Diedrich, 60 anos, que trabalha em parceria com o cunhado, Darci Soares, o pequeno açude está quase seco. “Por enquanto, ainda tem. Mas não sei até quando vai durar essa água. Aqui na região, é todo mundo com o mesmo problema”, conta o morador de Costa do Capivara, nas proximidades da RSC-287. No local, o milho, utilizado principalmente para trato dos animais, também foi prejudicado pela seca. “Sobrou muito pouco para fazermos silagem”, relata.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Taquari e Tabaí, Romaci Braga, disse que a entidade tem recebido muita reclamação dos associados em relação à estiagem. “Em Tabaí, a Prefeitura está abrindo açudes, buracos, para ter mais água para os bichos. Mas aqui em Taquari não tem nada nesse sentido, faz muito tempo que não chega uma máquina para a agricultura. É importante realizar esse serviço, não dá para ficar esperando secar tudo”, disse o sindicalista.
A Prefeitura informou que, até o momento, não recebeu pedido para envio de água em caminhões-pipa. Em relação ao maquinário para abertura de açudes, disse que está fazendo um levantamento das necessidades dos produtores para projetar ações. “Agricultores que necessitem de recursos devem procurar a pasta da Agricultura ou ir até o britador”, informou a administração.

Taquari não decreta situação de emergência

Segundo informações da Prefeitura de Taquari, há perdas na agricultura, mas que não justificam a decretação de estado de emergência no município. “A região mais seca é a que fica ao norte da rodovia RSC 287. Essa região tem principalmente campo nativo e eucalipto, que não têm perdas significativas. Também tem produção de fumo, que é sensível à seca, mas está com a colheita avançada, portanto produziu antes do aumento da estiagem”, informou a administração municipal.
A Prefeitura disse também que, para avaliar as perdas, se baseia nos seguros agrícolas das lavouras financiadas através do Proagro. “Os dois principais agentes financeiros no crédito rural de Taquari são o Banco do Brasil e o Sicredi. Até agora, não temos pedidos de cobertura do seguro do Proagro na estiagem atual, nos agentes financeiros citados”, informou.

Está baixando o nível na captação da Corsan

A Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) fez um alerta para o uso consciente da água. Devido à estiagem, os pontos de captação da Corsan no estado estão extremamente baixos e isso inclui Taquari. “O nível na captação está baixando consideravelmente e, se necessário, iremos fazer alguma ação lá. Mas, a princípio, o principal é pedir para a população fazer uso consciente da água”, destaca a chefe da unidade de saneamento local, Janet Satiq Martins.
A companhia informa que tem realizado ações necessárias para evitar racionamento, mas, nesse contexto crítico, é vital a cooperação de toda a população, praticando o uso responsável da água. Veja dicas para evitar desperdícios.

• Não lave o carro nem a calçada.
• Não tome banhos demorados.
• Não deixe a torneira aberta se não estiver usando.
• De forma geral, não desperdice água, usando somente o necessário.

Com irrigação, agricultor estima aumento de 30% na produtividade do milho

Em meio à seca, Guilherme Borguetto Capelão, 37 anos, tem expectativa de aumentar a produtividade da lavoura de milho em 2022. A estimativa é de que, em relação a uma safra com condições climáticas favoráveis, o crescimento seja de 30%. Já em comparação à colheita em épocas de estiagem, como neste verão, o aumento pode chegar a até 100%. Isso porque ele apostou na irrigação, uma novidade para a cultura em Taquari.
O equipamento utilizado para molhar a lavoura de milho foi adquirido recentemente. No primeiro ano com o método, o produtor estima colheita de, no mínimo, 160 sacas por hectare. Em área não irrigada, a produtividade deve ficar em torno de 100. “O sistema se paga no primeiro ano se usar a capacidade máxima. O que eu adquiri consegue irrigar até 12 hectares”, relata.
Capelão está satisfeito com o investimento e, na próxima safra, quer ampliar o cultivo irrigado. O produtor relata que, após instalar o sistema, muitas pessoas foram até sua lavoura, no Caramujo, para conhecer o funcionamento. “Ainda tem muita resistência do pessoal mais antigo, questão cultural. Eu não conheço outro produtor de Taquari que cultive milho com irrigação. Muitos têm medo de investir dinheiro no sistema, acha melhor comprar mais terra e fazer o plantio com o mínimo de gasto possível. Mas o custo do plantio hoje está caro, R$ 5 mil por hectare. Aí tu vai investir R$ 50 mil em 10 hectares e arriscar não colher nada? Não tem como”, diz. Além da segurança da produtividade, Capelão destaca outros benefícios da irrigação, como a possibilidade de adubação em qualquer data, sem precisar esperar a chuva para realizar o processo.
O produtor relata que o investimento na irrigação está muito mais barato do que em anos anteriores, se comparado ao custo do plantio. Há cerca de sete anos, ele havia pesquisado valores do sistema. Na época, o custo de plantio por hectare era de cerca de R$ 1 mil e a irrigação representava 45 vezes esse valor. Hoje, com o aumento no preço dos insumos, o sistema fica em cerca de 15 vezes o custo do plantio. “E o preço do milho triplicou praticamente, então a possibilidade de um retorno mais rápido é maior”.