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“Quando a pessoa procura o médico no início dos sintomas, conseguimos atender melhor o paciente”

Responsável técnica da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São José, médica Caroline Lahude Salim, concedeu entrevista, ontem, ao jornal O Fato. Ela falou sobre a necessidade de estar atento à evolução dos sintomas do coronavírus e de procurar o médico, se o quadro de tosse, febre e dor de cabeça persistir. Pacientes com menor grau de comprometimento pulmonar têm maior chance de recuperação. A UTI do Hospital São José, habilitada em maio de 2020 para receber pacientes com coronavírus, atende o Sistema Único de Saúde (SUS) e as internações são coordenadas pelo Sistema de Regulação (Sisreg), do governo do Estado. Até a tarde de ontem, havia sete pacientes internados, sendo dois de Taquari, dois de Sapiranga, dois de Cachoeirinha e um de Alvorada.
Veja a entrevista.

OF – Quais sintomas as pessoas devem observar para levantar a suspeita de estarem com coronavírus?
Caroline – O coronavírus pode causar sintomas muito diversos. Ouvimos falar muito de desconforto e insuficiência ventilatória, mas pode causar, inicialmente, sintomas mais leves, como dor de cabeça, febre não necessariamente alta, dor de garganta; um sintoma muito importante que as pessoas não dão tanto valor é a perda do olfato (não sentir o cheiro) e, muitas vezes, o gosto das coisas; nem sempre as pessoas têm os sintomas mais clássicos, que são a tosse e a febre. Qualquer sintoma é sinal de  alerta, e sempre que tiver algum desses deve se afastar das outras pessoas, preferencialmente, ficar em casa e observar a evolução para procurar atendimento. Tentar se isolar para  evitar, ao máximo, a disseminação para nossos familiares e outras pessoas. O que temos que fazer, não é só por nós, e por todo o grupo e cada um fazendo um pouquinho, talvez a pandemia acabe mais cedo.

OF – Em qual momento  se deve procurar o atendimento médico?
Caroline – Com um quadro de sintomas mais leves, não é necessário ir para o hospital ou uma unidade de saúde.  Pode-se usar medicações sintomáticas e ficar em casa. Mas, a partir do momento em que esses sintomas começarem a ficar mais graves, ter dificuldade para respirar e tosse compulsiva que não melhora, febre alta e dor de cabeça que não passa, ao perceber que não está melhorando, pode procurar atendimento médico, não necessariamente  o hospital. Pode-se telefonar para o serviço de saúde para tirar dúvidas e saber se já é o momento de ser atendido ou não.

OF – Por que é importante buscar o atendimento no início dos sintomas?
Caroline – Para que possa iniciar o tratamento e não ter evolução para um quadro mais grave. Às vezes o paciente deixa para vir quando está com muita falta de ar e já é um quadro muito avançado, acaba precisando de respirador e UTI. Quando a pessoa procura o médico no início dos sintomas, conseguimos atender melhor o paciente, não num quadro de tanta urgência e, às vezes, evita uma evolução tão desfavorável como essa.

OF- Como é o quadro que as pessoas de Taquari têm chegado no hospital?
Caroline – A maioria dos pacientes que chega na UTI está num quadro muito grave, precisando de suporte ventilatório (máquina que ajuda o paciente a respirar) ou de oxigênio em dose muito alta. Muitos deles precisam de outros suportes, como medicação para a pressão. São quadros realmente graves, com alto risco de evoluir para óbito e ficam por um longo período internados, mostrando que não têm uma recuperação como se gostaria. A doença debilita muito, principalmente a parte pulmonar. Não existe tratamento específico para a covid-19, mas  se pode usar outros tratamentos de suporte que podem evitar  a evolução da  doença  para um quadro tão grave.

OF – Como é a resposta do tratamento de quem chega com o pulmão comprometido em mais de 50%?
Caroline  – Normalmente, esses pacientes chegam precisando de oxigênio, alguns por cateter nasal (que é uma dose mais baixa) e outros já necessitando de máscara (com concentrações maiores), e, infelizmente, evoluem para quadro de fadiga, de não conseguir mais respirar e são colocados no respirador. A maioria deles, quando evolui, não sente que está piorando tanto e, de uma hora para outra, começa com muita falta de ar e já chega precisando de suporte ventilatório.

OF – Como é diagnosticado coronavírus em pacientes que não receberam o exame RT-PCR?
Caroline – Mesmo com o teste de PCR, podemos ter um falso-negativo, por não ter detectado vírus na via respiratória naquele momento, mas sabemos que o paciente tem covid. Hoje não precisamos de exame para fazer o diagnóstico. Com características clínicas, os sintomas e mais o exame de imagem, que geralmente utilizamos da tomografia, conseguimos fechar um diagnóstico clínico e não pelo exame da covid, especificamente. Existe mais de uma forma de diagnóstico hoje. A tomografia identifica características que são típicas da covid.

OF – Como tem sido os dias dos profissionais médicos da UTI aqui de Taquari?  
Caroline – Trabalhar com esse perfil de paciente é muito doído, vemos situações muito graves e por mais que, muitas vezes, façamos  as medidas que devem ser feitas, a terapia que temos e o suporte que temos para oferecer, vemos o paciente piorando. É sofrido estar na beira do leito nesse momento de pandemia. Mas a nossa equipe interage muito, os colegas se apoiam muito, tanto os médicos como a enfermagem e, com isso, vamos levando o dia a dia. Cada paciente que sai da UTI, comemora-se muito. É uma grande vitória para eles e para nós também, e temos que comemorar.

OF – Que  fatores levam à  morte por covid? É a Insuficiência respiratória?
Caroline – É multifatorial. A insuficiência respiratória é o que a população enxerga mais, porque é o primeiro sintoma grave. Mas em consequência disso, pela falta de oxigênio, o paciente vai entrando em disfunção de todos os órgãos. Acaba morrendo de uma disfunção multiorgânica, como chamamos. Primeiro, os pulmões são afetados, isso tem uma reação em todo o organismo, a pressão cai, o coração fica mais frágil, os rins param. Os órgãos, em sequência, vão parando. Quando acabam falecendo, é porque os órgãos já não conseguiram sobreviver com a falta de oxigênio.

OF – Como tem sido no Hospital São José, temos tido mais altas médicas ou, infelizmente, mais óbitos?   
Caroline – A mortalidade geral da covid é muito elevada. Sabemos que pacientes que precisam de UTI têm uma mortalidade em torno de 50%, e pacientes que evoluem para a necessidade de ventilação mecânica, a mortalidade é em torno de 60% a 70%, dependendo da gravidade.
Infelizmente, a gente também faz parte desta realidade, com um número muito grande de óbitos, mas estamos dentro do esperado na literatura. Temos tido uma recuperação grande aqui.

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