A vontade de empreender levou João Carlos Brandão de Oliveira, 58 anos, a trocar a profissão de frentista pela de comerciante, em meados da década de 1990.
Ele trabalhava no antigo Posto Shell (hoje Frizzo) e pediu demissão para alugar o bar. “Queria trabalhar por conta para ver como seria”, diz. Como não tinha dinheiro para fazer investimentos, alugou uma sala no bairro Passo da Aldeia, mesmo morando no Leo Alvim Faller. “Eu saía daqui às cinco horas da manhã para abrir o bar, a pé, e, às vezes, fechava às 11 horas da noite, vinha pra casa a pé”, recorda, completando: “Aluguei lá porque eu não tinha condições de fazer um prediozinho pra mim”. O local recebeu o nome de “Pilchado”, uma referência ao dono que gosta de vestir a pilcha de gaúcho, e a forma como ficou conhecido na comunidade. Começou vendendo os mais variados artigos. “Era secos e molhados”, diz, recordando a forma como as pessoas referiam-se aos armazéns e bares. João Carlos manteve o negócio por dois anos no bairro Passo da Aldeia, até conseguir adaptar um espaço ao lado da sua casa para colocar o comércio. Daquele tempo, ele recorda os amigos que fez. “A clientela era muito boa, gostei muito deles e eles gostavam muito de mim, que até hoje vêm aqui me visitar”.
Há 22 anos ele abriu a empresa em sua casa, que está situada em um espaço de aproximadamente 35 metros quadrados e é conhecida pela grande variedade de produtos. Os clientes podem encontrar desde peças para a construção civil, instalações hidráulica e elétrica, colher de pedreiro e trincha, até tiras para chinelos, artigos de bazar, festa de aniversário, como o pratinho pro bolo, tinta de tecido, panela, além de alimentos e bebidas. Outra peculiaridade do comércio é o amplo horário de atendimento. “Abro às cinco e meia da manhã todos os dias e tenho cliente. As gurias vão passando para o serviço, vão comprando um chiclete, outras um Freegells (balas)”, conta. O comércio fica aberto até às 22 horas. “ A gente tem que se dedicar”.
Nestes 24 anos de história, João Carlos recorda momentos alegres, como os que se reúne com a turma de Terno de Reis. “Tocamos gaita, cantamos, saímos nas casas visitando os amigos”. E os tristes, como os dois assaltos que sofreu. “Isso aí não é fácil. A gente passa por tudo, momentos bons, momentos ruins”.
Quando Pilchado, como é conhecido na comunidade, não está no bar, é a sua esposa, Tereza Marques, 57 anos, quem cuida do comércio.
Ao analisar a sua história, destaca: “Consigo manter a família. O que compro, pago e tudo daqui. E só compro aquilo que eu consigo pagar, senão não compro. Os viajantes (fornecedores) tão largando a mercadoria e eu tô pagando eles. Gostam muito de vender pra mim porque sou um cliente bom”, diz.
Para o futuro, avalia: “O meu futuro é ficar por aqui, conseguindo trabalhar e pagar as minhas contas já está muito bom. Pretendo trabalhar até quando puder”.