Rádio Açoriana encerra transmissões

Os locutores e apresentadores da Rádio Açoriana despediram-se dos ouvintes no último sábado. No dia 31 de agosto ,ocorreram as últimas transmissões pelo canal AM 1560. A rádio, que iniciou em 1964 e foi legalizada em 1968, de propriedade do empresário Lothário Bender, era mantida pela prefeitura desde 1984, quando foi tornada pública.
A iniciativa do encerramento das atividades partiu da administração municipal. Segundo o prefeito Maneco, os gastos para manutenção da rádio eram altos para os cofres públicos. Somente nos últimos dez anos, foram pagos mais de R$ 2 milhões para manter as atividades da rádio, além de R$ 3 milhões em precatórios de dívidas trabalhistas.
O canal AM 1560 será devolvido ao Ministério das Comunicações. Um projeto para a extinção da Empresa Jornalística e de Radiodifusão Açoriana (Ejora) foi encaminhado à Câmara de Vereadores. A votação estava marcada para sessão ordinária que ocorreu na noite de ontem, no entanto, o encontro encerrou após o fechamento desta edição. A Ejora contava atualmente com dois radialistas e uma diretora.

“Esse encerramento aconteceu de forma gradativa”

Há 42 anos na Rádio Açoriana, Valmor Pereira, 59 anos, despediu-se da empresa na qual começou a trabalhar na adolescência. O momento foi marcante para o radialista. “Não foi muito agradável, embora a gente já soubesse com antecedência que este seria o final. Procurei fazer de uma forma tranquila, mais calma, sem muito alarde”, contou Valmor.
Dos 51 anos de atividades da Açoriana, Valmor atuou em 42. Ingressou como operador de áudio e repórter esportivo, exercendo também as funções de apresentador e narrador de futebol. O radialista é uma memória viva dos momentos marcantes da Empresa Jornalística e de Radiodifusão Açoriana (Ejora). Em entrevista a O Fato, Valmor lembrou dos programas de sucesso da rádio, entre eles o mais marcante, o Carnê Social. Através do programa, a comunidade solicitava músicas em homenagem a aniversariantes e pagava para a canção ser reproduzida na rádio. “O programa era de segunda a sexta-feira, das 17h às 19h, sábados, da tarde até a noite, e domingo, depois da 13h até a noite. Tinha carnê social de alguns aniversariantes que tu começava na sexta de tarde e ia até terça da semana seguinte, de tanto pedido que era. E era tudo no vinil, era um programa bem complicado de fazer”, lembra Valmor.
Os programas de música ao vivo, como o Rancho de Gaúcho, também foram lembrados pelo radialista, assim como o “Tudo é Carnaval”, apresentado por Pedro Freitag, que também realizava transmissões dos desfiles. Outro ponto forte da trajetória da Açoriana foram as partidas de futebol. Não só pelas narrações que não se limitavam a jogos em Taquari, mas eram realizadas em diversos municípios em que Pinheiros ou Taquariense estivessem atuando e também pela confirmação de partidas pela rádio. Através da Açoriana, as equipes de futebol do município buscavam times para partidas no final de semana. Também através da rádio, os times confirmavam suas participações nos jogos. A Açoriana também foi a principal fonte de informação sobre falecimentos no município. Na época em que não existia o quadro em frente ao cemitério municipal, nem ao menos capela mortuária, era pela Açoriana que a comunidade ficava sabendo sobre os falecimentos.
Dos áureos tempos ao encerramento das atividades da rádio, muita coisa se passou. O próprio envolvimento com a administração municipal é citado por Valmor como um dos pontos cruciais para seu fechamento. Isto porque o envolvimento político trazia benefícios por um lado, com a manutenção dos custos da rádio pela prefeitura, mas malefícios por outro. “Quem era contra o partido do governo, não anunciava na rádio. Toda vez que trocava o partido, era aquela lista de anunciantes cancelados”, recordou o radialista.
Segundo Valmor, o fechamento da rádio já era sentido pela equipe há tempo. “Esse encerramento aconteceu de forma gradativa. Chegamos a ter 16 pessoas trabalhando entre rádio e jornal, só que de uns tempos para cá foram diminuindo para oito, seis, quatro, e agora estávamos eu, o Mário Sidnei, que é operador de áudio também, e a diretora Daniela. De três anos para cá, a gente sentiu que a coisa caminhava para esse lado do fechamento”, contou Valmor.
A entrevista completa com o radialista no programa Mistura Fina Online, está na página do jornal O Fato no Facebook, Youtube e no site do jornal.

EDITORIAL

Coragem

A EJORA- Rádio e Jornal O Açoriano encerrou, definitivamente, suas atividades no último sábado, 31 de agosto.
Cabe ressaltar que o jornal O Fato, em várias edições, alertou para a perda de recursos públicos que representava a manutenção da EJORA e que não tinha sentido o município possuir uma rádio que desse prejuízo.
A empresa tem uma bonita história em Taquari e muito colaborou, principalmente, no passado, na distribuição de informações. Porém, há muitos anos, tem se mostrado deficitária financeiramente e, segundo dados divulgados pela administração municipal, nos últimos 40 anos, foram retirados do caixa da prefeitura e repassados para cobrir compromissos financeiros da EJORA valores que, corrigidos, chegam a cerca de R$ 50 milhões. Nesse mesmo período, praticamente, todos os prefeitos ventilaram a possibilidade de se desfazer da empresa, sendo que muitos até usaram isso em campanha eleitoral, como uma das iniciativas de seu governo. Até os prefeitos de discursos mais austeros levantaram essa possibilidade, mas nenhum teve coragem de fazer. O ideal seria que a EJORA retornasse à iniciativa privada e continuasse atuando em Taquari, mas como isso não foi possível, a decisão do prefeito foi correta e muito corajosa. Com esse fato, Maneco mostra que não está preocupado com possíveis prejuízos políticos e que foca no que é melhor para o coletivo, ou seja, para as pessoas que residem em Taquari e buscam um melhor atendimento do setor público, em áreas que são de responsabilidade da prefeitura, como Saúde, Educação e outras.