O Fato Taquari Jornal On-Line
A suspeita de contaminação por esgoto na água da Lagoa Armênia voltou ao debate recentemente. Após um requerimento apresentado na Câmara de Vereadores, o jornal O Fato averiguou a situação nesta semana e coletou amostras de água em dois pontos do principal cartão-postal de Taquari. O material foi encaminhado para análise laboratorial, que apontou a existência de grande quantidade de coliformes fecais e a presença de três bactérias.
As amostras foram retiradas na manhã da terça-feira e encaminhadas para análise do Laboratório Laborvida. O primeiro ponto de coleta situa-se nas proximidades do Recanto Açoriano, próximo à rua Marechal Deodoro. O local havia sido apontado pelo vereador Leandro Mariante (PT), na sessão da Câmara na semana passada, quando levantou suspeita de contaminação por esgoto a partir da constatação de mau cheiro e diferença na coloração da água. A segunda coleta foi na rua Daniel Bizarro Martins, próximo ao cruzamento com a Osvaldo Aranha, no lado oposto ao primeiro ponto.
As amostras analisadas pelo Laborvida apresentaram quantidade superior a 100 mil bactérias ou unidades formadoras de colônias (UFC) a cada mililitro de água, o que mostra níveis elevados de contaminação. Para se ter um comparativo, em uma matéria realizada por O Fato em 2014, com base em dados da Corsan, o Rio Taquari registrava 88 UFC a cada 100 ml.
No primeiro ponto de coleta na Lagoa Armênia, na região suspeita de maior contaminação, foram detectadas as bactérias Enterococcus spp. e Staphylococcus spp. Já na segunda amostra, coletada na margem da lagoa na rua Daniel Bizarro Martins, próximo à Osvaldo Aranha, foi localizada, além da Enterococcus spp. e da Staphylococcus spp, a bactéria Escherichia coli.
O laboratório Laborvida, responsável pela análise das amostradas coletadas por O Fato, destacou que os laudos representam somente o conteúdo presente nas amostras, não sendo possível afirmar que um local tenha mais ou menos bactérias do que outro. “A literatura exige maior quantidade de amostras, pelo menos três, para se chegar a uma conclusão. Na amostra recolhida, teve uma bactéria a mais isolada no ponto 2, mas não dá para fazer afirmações, porque, em uma análise num momento posterior, poderá ser detectado outro gênero bacteriano. O que dá para concluir é que tem esses contaminantes de fezes humanas ou dejeto animal”, informou a farmacêutica bioquímica, Mônica Weiand Kroth.
As bactérias
Enterococcus – São bactérias gram-positivas, normalmente encontradas no intestino e no trato genital feminino. Existem 14 espécies descritas de Enterococcus spp., sendo o E. faecalis e o E. faecium , as duas que normalmente promovem colonização e infecções em humanos.
Staphylococcus spp. – Grupo de bactérias que afeta diversas espécies animais, dentre elas o homem, sendo colonizadoras naturais das mucosas e da pele. Existem diferentes espécies de Staphylococcus sp., que apresentam variações de prevalência de acordo com a espécie animal dos hospedeiros.
Escherichia coli – É uma bactéria que habita naturalmente o intestino das pessoas e de alguns animais, sem que haja qualquer sinal de doença. No entanto, há alguns tipos de E. coli que são nocivos para as pessoas e que entram no organismo devido ao consumo de alimentos contaminados, por exemplo, causando gastroenterite com diarreia intensa e com muco ou sangue.
Prefeitura diz que águas têm boa qualidade em aspecto geral
A administração municipal informou que não recebeu denúncia formal sobre mau cheiro na Lagoa Armênia e que, em 2019, foi realizado um estudo sobre a água do local e não foi constatada rede clandestina de esgoto na área. “Conforme o laudo, a Lagoa Armênia tem uma área de cerca de 32.200 metros quadrados e cerca de 42.000 metros cúbicos de volume, e é abastecida por uma ou mais nascentes localizadas dentro de seu leito, apresentando ótimo escoamento de água, com peixes (em especial tilápias), uma grande quantidade de tartarugas/cágados e aves (biguás). Durante os meses mais frios, há mortalidade de peixes, mas podemos concluir que tal fato decorreu por conta de seguidas frentes frias juntas, que acabaram por manter a temperatura da água muito baixa por longo tempo, e isso ocorre também pela pouca profundidade da Lagoa, fazendo com que haja aumento de material orgânico no local, produzindo algas e ocasionalmente odores pontuais.
Ainda, conforme o estudo, a Lagoa Armênia é um reservatório de pouco uso efetivo e renovação constante graças às suas nascentes, o que torna as suas águas classificadas com boa qualidade no aspecto geral, estando enquadradas na Classe III de uso das águas, segundo a resolução CONAMA N° 357/05”, disse a Prefeitura, sem dar mais detalhes sobre o estudo citado.
O jornal pesquisou a resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) para a classe 3 de água doce, que determina, entre outros, a não constatação de efeito tóxico agudo a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente e ausência de resíduos sólidos objetáveis. Em relação aos coliformes termotolerantes, é estabelecido que, para o uso de recreação de contato secundário, não deverá ser excedido um limite de 2500 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral. Para dessedentação de animais criados confinados, não deverá ser excedido o limite de 1000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros e, para os demais usos, não deverá ser excedido um limite de 4000 coliformes termotolerantes por 100 mililitros.
