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PAVERAMA: Município mantém a cultura do dialeto alemão

Não é preciso andar muito tempo pelas ruas de Paverama para encontrar pessoas conversando em uma língua que não é o idioma oficial do Brasil, o português. A comunidade mantém há muitas gerações o dialeto alemão hunsriquiano ou hunsrik, considerado, desde 2012, patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul, além de possuir titulação semelhante no estado de Santa Catarina.

O dialeto originou-se no século 19, no período de colonização de regiões brasileiras. Paverama é um dos municípios brasileiros que, junto à colonização açoriana, recebeu grande influência alemã e a identificação com essa cultura propagou o hunsriquiano no município.
A moradora do Centro, Aleci Bauer, 59 anos, aprendeu a falar o dialeto ainda criança. Seus pais, Aura Von Muhlen, de 85 anos, e Erni Rudi Von Muhlen (in memoriam) residiam na localidade de Morro Azul e, assim como os vizinhos, utilizavam o alemão na maior parte das conversas. Eles ensinaram o dialeto aos filhos antes mesmo do português. “No interior, todo mundo falava em alemão. Hoje, na minha família, a gente continua conversando entre os irmãos para manter o costume, porque muitas vezes, quando se está junto de alguém que não entende, acabamos evitando de usar”, relata.
Segundo Aleci, o hunsrik segue forte no interior de Paverama, mas, na zona urbana, a cultura muitas vezes acaba não sendo passada às gerações seguintes. “Hoje em dia não é mais a mesma coisa, porque as famílias vêm para a cidade e precisam deixar as crianças cedo na creche. Na escola, aprendem o português, tem a convivência. O alemão é mais difícil de pronunciar as palavras, precisa enrolar a língua. Já o português é mais reto e, quando se aprende o português primeiro, é difícil aprender o alemão depois”, considera Aleci.
Dos quatro filhos que tem, a mais velha, Margrith Bauer Jantsch, de 43 anos, é a única que aprendeu o dialeto. “Foi importante para mim aprender, me ajuda também com as vendas, porque tenho clientes que falam praticamente só em alemão. Essa cultura tem que ser mantida”, conta Margrith, que trabalha com floricultura. A comerciante quer passar a tradição do dialeto adiante e conta que está tentando ensinar para o filho, de seis anos de idade.

Origem do dialeto é explicada por pesquisador

Graduado em história pela Univates, Jeferson Schaeffer, 24 anos, morador e professor em Marques de Souza, participou, por 3 anos, do grupo de pesquisa “Identidades étnicas em espaços territoriais da Bacia hidrográfica do Taquari-Antas/RS: história, movimentações e desdobramentos socioambientais”, coordenado pelo professor Dr. Luís Fernando da Silva Laroque, da Univates. No projeto, são pesquisados aspectos históricos, culturais e ambientais envolvendo os grupos humanos que circulam ou circularam por esses espaços. A pesquisa traz informações sobre o dialeto alemão e Jeferson respondeu a perguntas do jornal O Fato.

Quais cidades que integram o Vale do Taquari possuem o dialeto alemão?

Os municípios das microrregiões centro, centro-oeste e parte de oeste são de colonização alemã e, consequentemente, de fala alemã, mas deve-se ter em mente que essas fronteiras não eram estáticas e que esses grupos mantiveram contato entre si desde o princípio. Esta colonização “alemã” no Vale do Taquari ocorreu somente após 1850, mas o que a sabedoria popular costuma chamar de “imigração alemã” no Vale do Taquari é algo muito mais abrangente, pois a Alemanha existiu como país unificado somente após 1871. Nessas condições, os imigrantes que integraram as migrações “alemãs” no Vale do Taquari eram oriundos de distintos reinos germânicos e estados europeus.

Todas as cidades falam o mesmo dialeto ou há variações?

Sim, há variações. A diversidade de imigrantes germânicos em contato também gerou uma diversidade linguística, por isso, o dialeto falado hoje pode ser composto por palavras que possuem sua origem em línguas distintas. Pesquisas realizadas no projeto da Univates apontam para a presença de imigrantes oriundos de regiões germânicas, como a Westfália, Pomerânia, Renânia, entre outras, que representam a coexistência de dialetos no Vale do Taquari, como o westfaliano (Plattdüütsk), o pomerano (Pommerisch), o hunsriquiano (Hunsrückisch), respectivamente. A pesquisa que realizei durante a graduação e que foi tema da minha monografia tratou de famílias de origem holandesa estabelecidas na segunda metade do século XIX no Vale do Taquari, as quais também possuíam dialetos próprios das regiões de que eram oriundas, nos Países Baixos.

O idioma falado na Alemanha é semelhante ao dialeto aqui da região?

O alemão falado na Alemanha é o alemão padrão (Hochdeutsch). Se trata do alemão gramatical, uma forma padrão de comunicação que foi criada, o que não quer dizer que as pessoas não falem dialetos, muito pelo contrário, no norte da Alemanha, onde vivi por um ano, as pessoas ainda costumam falar no ambiente familiar o dialeto Plattdeutsch. Em minha opinião, como falante do dialeto Hunsrückisch, há um grau de inteligibilidade entre o dialeto e o alemão padrão, assim como o domínio do dialeto cria uma predisposição para o aprendizado do alemão padrão. Na inteligibilidade, no entanto, algo que dificulta é o fato de utilizarmos algumas palavras arcaicas em nosso dialeto, isto é, que já caíram em desuso no atual idioma alemão, bem como costumamos fazer alguns empréstimos do português, o que causa limitações na compreensão.

Como o dialeto é repassado aos descendentes? Sua utilização será preservada ou tende a acabar?

O dialeto costuma ser transmitido no seio familiar, geralmente no contato com pessoas de mais idade. Acredito, de forma geral, que os falantes de dialeto estão envelhecendo no Vale do Taquari e o êxodo rural do final do século XX contribuiu para que as gerações mais novas não tenham aprendido o dialeto. Alguns jovens hoje em dia falam, outros, porém, somente entendem. Penso que o oferecimento do alemão como língua estrangeira nas escolas, a existência de programas de rádio voltados a este tema, o trabalho dos Grupos de Danças Folclóricas Alemãs possam contribuir no sentido de instigar o aprendizado e reforçar a importância da preservação dos dialetos locais.

Administração municipal destaca importância cultural do hunsrik para o município

Questionada sobre o dialeto hunsrik e o que pode ser feito para perpetuá-lo no município, a Prefeitura de Paverama encaminhou nota sobre o assunto. “A língua alemã para nós, paveramenses, que ainda permanecemos com o costume das conversas em alemão dentro de diversas famílias, é um resgate da nossa história. Sabemos que somos um povo de várias etnias, mas no geral, o alemão é um segundo idioma, falado em boa parte da cidade. Nunca foi entrado em detalhes sobre a ideia de perpetuar o idioma através das escolas, mas seria de grande valia. A secretaria de Educação pode, no futuro, fazer um estudo com os pais e responsáveis pelos alunos, na preferência da língua estrangeira a ser estudada. Hoje, temos o inglês como preferência, mas, vemos com bons olhos, caso fosse escolhido o idioma alemão. Aliás, em nosso banco de professores, temos um especialista no assunto, que é um professor formado nessa língua”, disse a Prefeitura.

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