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A última Brizoleta que funcionava em Taquari encerrou as atividades no ano de 2019. Os quatro estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental Fazenda do Estado, na localidade de Campo do Estado, foram matriculados na Escola Estadual de Ensino Fundamental Ana Job, no bairro Coqueiros.
Conforme a 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), foi realizada reunião com os pais dos quatro alunos que estavam matriculados em 2019, sendo que um destes já havia concluído o 5º ano. “Pelas questões pedagógicas e de socialização destes alunos, eles optaram em ir para a escola Ana Job. Para esta escola também foi todo o acervo de documentos da Fazenda do Estado. Os bens móveis foram levados para as escolas que manifestaram necessidades dos itens”, informou a 3ª CRE. A escola não recebia mais alunos há alguns anos.
Para a professora e diretora que atuou até o encerramento, Vani Neves da Rosa, 69 anos, o sentimento é de gratidão à escola e à comunidade. “Senti que fui muito valorizada na minha carreira e também senti que consegui fazer algo pela comunidade. Encerrei com chave de ouro”, diz a professora, que se aposentou em 2019, tendo 11 anos de atuação no educandário.
A escola Fazenda do Estado foi construída em 1968, seguindo o formato das escolas popularizadas na gestão do governador Leonel de Moura Brizola (1959 e 1963). Ele implantou o programa “Nenhuma Criança Sem Escola no Rio Grande do Sul”, que buscou dar escolarização a todas as crianças com idade entre 7 e 14 anos e a erradicação do analfabetismo. Com isso, foram implantadas inúmeras escolas em diversas localidades do interior dos municípios. Os educandários, também chamados de Escolas do Brizola, tinham formato padrão, eram feitas de madeira em linha horizontal, com uma ou duas salas de aula.
Na Fazenda do Porto, escola guarda memórias das aulas
A única escola no modelo Brizoleta ainda edificada em Taquari é a Escola Municipal de Primeiro Grau Incompleto Padre Alfredo Gonçalves de Moura, em Fazenda dos Porto, próxima da divisa com Fazenda Vilanova. A moradora da localidade, Maurícia Silveira Palagi, 67 anos, estudou e trabalhou na escola, que funcionou até 2003, quando tinha três alunos matriculados.
Maurícia ingressou na escola aos 8 anos, no primeiro ano de atividade do educandário, em 1962. O terreno foi uma doação do pai de Maurícia. “Meus irmãos iam a cavalo para o colégio que tinha, a cerca de dois quilômetros de casa. Tendo eu, a menina e o nenê da casa, e duas netinhas, meu pai doou o terreno para o colégio. A primeira professora foi a Elma Rodrigues da Conceição, que mora em Bom Retiro do Sul”, conta Maurícia.
O pátio da escola recebe manutenção da família de Maurícia, que também plantou o arvoredo e manteve até pouco tempo um herbário, no modelo de relógio biológico.
O prédio mantém livros e algumas classes utilizadas pelos alunos. Na parede, no quadro negro ainda está escrita a aula de matemática do último ano de atividade da escola, em 2003, e há dois quadros com as fotos dos ex-prefeitos, Namir Luís Jantsch e Celso Luís Martins (falecido em 1997), que foram os prefeitos na época em que Maurícia lecionou. Ela diz que pensa em fazer uma biblioteca no local, que também já foi utilizado para reuniões da comunidade com a Emater.
A sorte que Maurícia teve por cursar os primeiros anos escolares no educandário perto de casa não se repetiu com os seus filhos. Eles tiveram que estudar na Escola Júlio de Castilhos e depois concluíram os estudos na escola Timótheo Junqueira dos Santos, no Rincão. “Eles saíam daqui entre 5h30min e 6 horas da manhã. Hoje, as poucas crianças que têm aqui vão para a Júlio de Castilhos com topic (transporte escolar público), pra eles tá fácil”, comenta Maurícia.
Dezenas de escolas pelo interior de Taquari
Não há um dado preciso sobre a quantidade de escolas construídas em Taquari incentivadas pelo programa do governador Leonel Brizola. A 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) aponta apenas as últimas que integraram a rede estadual, a Fazenda do Estado, cessada em 2019, a Francisca Martins Calçada, na Beira do Rio, que encerrou as atividades em 2005 e teve o prédio derrubado por um invasor do terreno, e a Barão de Ibicuí, no bairro Santo Antônio, cujo prédio foi demolido em 2013 por questões de segurança física e patrimonial.
Mas relatos de professores, ex-alunos e autoridades da época apontam outras escolas no mesmo formato das Brizoletas, em Taquari, como as extintas Margarida Ribeiro, no Passo do Santa Cruz, Marechal Rondon, em Passo do Juncal, a 4 de Julho, no Carapuça, e a Escola Rural Campo do Estado, em Campo do Estado, além das que foram transformadas para alvenaria, como a La Salle, no Passo da Aldeia, e a Emílio Schenk, no bairro Leo Alvim Faller.
O ex-prefeito Namir Luís Jantsch diz que quando assumiu a Prefeitura, em 1976, a maioria das escolas em Taquari era no formato Brizoleta e que, ao longo dos anos, algumas foram sendo substituídas por prédios de alvenaria, como a extinta Clotilde Braga, no Bairro Praia, hoje Escola de Educação Infantil Paulo Freire; a estadual Ana Job, no Coqueiros, e uma na localidade de Porto Grande, com apenas uma sala de aula. “É uma nostalgia, principalmente para esse pessoal que trabalhou, os professores e colegas, e depois quando fui coordenador regional da educação, nos 35 municípios, a gente visitava desde Tabaí a Anta Gorda, tinham muitos resquícios ainda de Brizoletas”, conta Namir.
Ele diz que em seu governo procurou preservar os educandários do interior em atividade. “A nossa política de entendimento era que a criança tinha que ficar na comunidade. A minha tendência era onde tinham quatro ou cinco crianças a gente instalava alguma coisa para que não ocorresse o deslocamento. As Brizoletas prestaram um grande serviço nos anos de 58 até os 80”, diz o ex-prefeito Namir.
Ele lembra que houve mudança na política educacional e, com a redução do número de alunos no interior e a implantação do transporte escolar, as escolas foram fechadas gradativamente, e os alunos remanejados para instituições maiores. No período em que ele foi prefeito de Taquari, os municípios de Tabaí e Paverama não eram emancipados e Namir lembra que o prédio da Escola Cônego Cordeiro, a maior na época de Tabaí, também uma Brizoleta, estava caindo e foi amarrado em um moirão. “Fizemos uma comissão, fomos no Estado e conseguimos até a presença do governador na inauguração”, lembra.
Na localidade de Carapuça, conta o ex-prefeito, tinha uma Brizoleta estadual, na fazenda do Homero Laranjeira, uma escola pequena que também foi desativada.
A professora Cleci Bizarro Coutinho, 69 anos, que trabalhou na secretaria da Educação de Taquari, no ano de 1977, lembra que a escola 4 de Julho, na localidade de Carapuça, tinha apenas uma sala de aula, a cozinha e uma pequena área aberta. Como a professora Maria da Glória Calçada queria dividir em duas turmas, fez uma repartição com taquaras no meio da sala. “E funcionou!”, diz Cleci, completando: “Acho que não teve outra época em que se fizesse tantas escolas, acho a melhor de todas as épocas.”
Algumas escolas que foram construídas no modelo Brizoletas*
Em Taquari
Margarida Ribeiro, no Passo do Santa Cruz (próximo ao IAPD)
Escola Rural Campo do Estado
Escola Estadual Fazenda do Estado, em Campo do Estado
Escola Estadual Francisca Calçada, na Beira do Rio, cessada em 2007
Escola Fazenda Lemertz, Arroio do Potreiro
Escola Municipal Marechal Rondon, no Passo do Juncal
Escola Campos Sales, em Amoras
Escola Rui Barbosa, em Amoras
Escola Amoras
Escola Othelo Rosa, na rodovia Aleixo Rocha da Silva (próxima à Acerta)
Escola 4 de julho, em Carapuça (próximo ao trevo de acesso a Taquari)
Coronel Manoel Ribeiro, em Capão da Cruz
Escola Ana Job, Coqueiros
Emílio Schenk, Leo Alvim Faller (em atividade em outro prédio)
Escola La Salle, Passo da Aldeia (em atividade em outro prédio)
Escola Estadual Barão de Ibicuí, Bairro Santo Antônio (demolida em 2013 por questões de segurança física e patrimonial)
Tabaí
Escola José Custódio de Sá e Faria, Costa do Santa Cruz
Escola Capitão José Rodrigues de Castro, localidade de Hélio Cardoso
Escola Carlos Gomes (em atividade, em outro prédio)
Escola Aterrados, na localidade de Otávio Azevedo
Escola Pedro Rosa, em Pedro Rosa (em atividade, em outro prédio)
Escola Cônego Cordeiro (em atividade, em outro prédio)
Paverama
Escola Boa Esperança, em Boa Esperança
Rodrigo Vilanova, em Santa Manoela
José de Anchieta, na Cabriúva
*Colaborou Cleci Bizarro Coutinho, que foi Secretária da Educação de Taquari
