Os prejuízos pela falta de chuva na região têm aumentado a cada dia em Taquari. Sem registrar desde novembro precipitação consistente e constante, os produtores têm acumulado perdas.
Em levantamento da Emater de Taquari feito em janeiro, a estimativa era de 40% de perdas. Dados atualizados nos últimos dias pela entidade apontam uma quebra de safra de acima de 65% nas lavouras de soja e milho. A secretaria da Agricultura não tem a estimativa em reais do prejuízo.
Até mesmo a produção de arroz, que é uma atividade irrigada, que não constava no levantamento inicial, está com estimativa de quebra de 20% na lavoura. A produção de arroz é a segunda maior cultura do município. A primeira é silvicultura (acácia e eucalipto). No setor do gado de corte e leiteiro, o valor é inestimável até o momento.
O coordenador da Secretaria da Agricultura, Leandro Palagi, diz que a estiagem afeta todas as regiões do interior de Taquari, causando mais danos nas áreas afastadas dos morros e do Rio Taquari. “Está tomando proporções que há anos não atingia e a escassez de água é geral. Por termos passado uns anos bons com verões chuvosos, o pessoal não se preocupou em estocar a água. Agora aconteceu em uma escala bastante assustadora”, avalia.
A previsão, conforme Palagi, é de falta de chuva forte até abril. “Se continuar este cenário, a tendência é aumentar este prejuízo. A agropecuária representa 40% do PIB do Município e a perda será proporcional à quebra”, diz.
Desde janeiro a prefeitura está, segundo o coordenador, disponibilizado uma máquina para casos emergenciais de limpeza de açudes para a água dos animais. “Agora, como a água está terminando, passamos a oferecer o caminhão-pipa para transporte de água para os animais”, conta.
Nas últimas semanas, a secretaria está recebendo cerca de 10 pedidos de abastecimento de água por dia e a prefeitura tem disponibilizado um caminhão pipa para levar água para o gado. “Pedimos que as comunidades se organizem para fazer os pedidos nas secretarias de Agricultura ou Obras para otimizarmos este serviço. O Município é muito extenso, são 40 quilômetros de distância, e isto para um trator percorrer é muito longe. Quando estamos em um local, tentamos atender ao máximo”, solicita. Ele destaca ainda a necessidade de as pessoas atendidas disponibilizarem recipientes adequados para colocarmos a água, o que a maioria não tem.
Palagi diz que para ter o Decreto de Situação de Emergência, o que pode resultar em algum auxílio para os produtores, é necessário atingir um percentual mínimo de dano na agropecuária de modo geral do município. “Taquari é muito dependente da produção de eucalipto, que não é tão afetado. Os maiores prejuízos são nas culturas de subsistência”.
Por conta a situação crítica, a secretaria não tem atendido os pedidos de máquinas para outros serviços. “Neste momento só vamos poder cumprir atividades emergenciais. Não temos estrutura para outras obras, o que requer uma programação”.
Falta água para consumo humano
A água do açude em frente à casa da moradora da margem da VRS 828, no Rincão, Andressa dos Santos Viera, 20 anos, está escasseando. O pouco que resta está sujo para o consumo do gado e do cavalo. Além disto, o poço que abastece a casa está secando. Esta é a primeira vez que ela vive esta situação nos cinco anos que mora no local. Para o consumo da família, conta com o pouco que resta. Para o consumo da casa, nas atividades domésticas, tem pego água do poço do vizinho, mas que a água não é adequada para o uso humano. “E nem tem previsão de chuva”, diz.
Em outra residência do Rincão, também na margem da rodovia, a família de João Gabriel da Silva, 16 anos, tem utilizado água da Corsan para dar aos cavalos. O açude em frente de casa, utilizado para os animais beberem, está com o nível mais baixo desde que a família foi morar na propriedade, há três anos. “A pouca água que tem no açude está com barro e não conseguem beber. Na semana passada ou retrasada que teve uma chuva, mas não mudou nada”, diz.
O agricultor da localidade de Amoras, Juarez do Couto, 50 anos, diz que perda com a estiagem é grande. Tendo como principal cultura o fumo, ele contabiliza prejuízo de cerca de R$ 12 mil, porque foram de 30% a 35% da lavoura perdidos. “O milho que plantei em agosto e setembro não colhi nada”, avalia. Ele diz que não tinha vivido uma situação de estiagem em períodos como este. “A estiagem começou em final de outubro e início de novembro, aqui tem chovido muito pouco. Muitos agricultores nem plantaram. Milho que deveria ter sido colhido até começo de fevereiro, fumo, feijão, não deu uma cozinhada. O que tá reagindo é o aipim, então acho que fome a gente não vai passar”, disse.