Nos últimos três anos, foram registradas 448 ocorrências de Maria da Penha na Delegacia de Polícia de Taquari, 163 em 2017, 152 em 2018 e 133 (até o dia 18 de dezembro) em 2019. O Fato fez uma entrevista com a delegada Betina Martins Caumo para falar sobre a violência doméstica no município. Confira a entrevista.
O Fato – De acordo com as ocorrências registradas na Delegacia de Polícia de Taquari, há um número elevado de casos de violência doméstica. É um problema no município? O que acarretam?
Betina Martins Caumo – Infelizmente, essa é uma realidade nacional. O elevado número de ocorrências demonstra que a violência doméstica é uma realidade, refletida em crimes de maior incidência e, como tal, precisa ser duramente coibida.
OF – Na sua visão, qual a principal causa da violência doméstica?
BMC – O pensamento machista, com entendimento de que o homem tem posse sobre a mulher, refletido num ciúme exacerbado, e o consumo de bebidas alcoólicas e drogas estão entre as principais causas da violência doméstica.
OF – Como diminuir estes casos envolvendo uma rede de ações públicas?
BMC – O sistema ainda me parece muito falho no que diz respeito ao agressor. Este também precisa ser tratado. A reincidência e continuação da violência, mesmo após a denúncia por parte da vítima é um dos grandes problemas quando se fala de violência doméstica. Simplesmente punir o agressor muitas vezes não se mostra suficiente na resolução do problema. É preciso investir mais em instrumentos de prevenção à violência doméstica, em grupos para tratamento dos agressores. Também investir em educação, tratar desse assunto nas escolas, para tentar mudar esse problema que é fruto do machismo na sociedade brasileira. Violência doméstica tem forte base cultural. Igualdade de gênero e respeito são temas a serem tratados desde a mais tenra idade.
OF – Como devem agir as mulheres que passam pelo problema?
BMC – Desde os primeiros atos de violência, mesmo que verbais, é necessário registro de ocorrência para resolver a questão criminal. A Lei Maria da Penha motivou muitas mulheres a denunciarem os agressores, mas ainda há muitos casos não comunicados. Além disso, é preciso buscar apoio da família, amigos e mesmo serviços municipais (de Saúde, Assistência Social). É importante pedir socorro para que a situação não se torne mais grave e para que outros membros da família, especialmente filhos, não venham a ser vítimas também.
OF – Estes casos podem evoluir para uma violência mais grave, como risco de assassinatos? Como evitar isso?
BMC – Violência doméstica costuma passar por várias fases, iniciando pela violência psicológica, ofensas e humilhações privadas e em público, ameaças, empurrões e puxões de cabelo, que depois avançam para socos, chutes (ações que deixam lesões visíveis) e, em casos extremos, feminicídio. Volto a dizer: é importante pedir socorro para que a situação não se torne mais grave.