Seis décadas de duas vidas

A família construída por Olmiro Silveira da Silva, 81 anos, e Maria Sirlei da Silva, 81 anos, está em festa. O casal completou no dia 28 de novembro, Bodas de Diamante. “É muito orgulho para nossa família poder comemorar essa data e também muito gratificante. Agradeço a Deus sempre por estarem conosco mais um dia. É uma felicidade enorme poder estar comemorando essa data. Completar 60 anos de casados, hoje em dia, é mais raro porque, na maioria das vezes, um parte primeiro ou se divorciam”, diz a neta Ana Rafaela da Silva, 30 anos.
Eles casaram-se aos 21 anos, depois de quatro anos de namoro. Órfã de mãe, Sirlei morava com o avô materno e precisava seguir à risca as regras. “Naquele tempo, uma sala grande, sentava um lá na porta e ela aqui, com o avô do lado”, conta Olmiro. “Ele foi servir (prestar o serviço militar) e vinha um e outro dizendo: não seja boba ficar em casa esperando por ele. Mas não é que eu ficava esperando, eu não podia sair, o vô não deixava. Foi assim até casar”, conta, completando “Para ir num baile, era um sacrifício. Não sei até hoje porque isso, tanto cuidado”.
A situação seguiu até mesmo depois de casados. “Parece assim que depois de casado a gente ainda tinha um respeito. Tudo era feio. Na minha primeira gravidez, eu tinha vergonha de sair de casa. Hoje em dia vejo tirando fotos com pouca roupa, meu Deus do céu! Tive tanta sorte que eu não tinha barriga de grávida, ninguém dizia que eu tava grávida”, conta.
O casal morou na localidade de Amoras, em Taquari, e em Mariante. Ele era agricultor e ela cuidava da casa. Mais tarde, mudaram-se para Arroio do Meio, retornaram para Taquari e, após, Paverama. Nesta época, ele já era caminhoneiro. Residiram ainda na localidade de Conceição, em Fazenda Vilanova, bem antes de o município ser emancipado, até construir a casa onde moram, há 36 anos, no Centro. “Nesta rua era só a nossa casa e uma aqui abaixo, no mais era tudo campo”, lembra Sirlei. Olmiro e Sirlei têm quatro filhos: Jairo, Neusa, Luciani e Fernando, oito netos e quatro bisnetos.
Sirlei lembra das mudanças que ocorreram nos últimos anos. “É tudo diferente do nosso tempo. Por isso que hoje as minhas filhas me chamam a atenção: ‘mãe não é assim’. Mas eu não fui criada muito rígida”, lembra.
Sobre a trajetória de casados, ela conta: “A gente sofreu, não caminhamos só em rosas, caminhamos em espinhos também, mas deu tudo certo. Nunca houve entre nós briga de dizer vamos separar. Briga tem de vez em quando, eu mando ele fazer uma coisa mas ele não quer. Era muito feio um casal se separar, mas também nunca pensei nisso. Não teve o dia que eu dissesse que não dava mais. Só se passou na ideia dele, mas nunca me disse que não estaria contente. Às vezes fico pensando: nem acredito que passaram 60 anos”, diz Sirlei.
Para ela, a receita para permanecerem tantos anos juntos é “ter paciência com as coisas, saber esperar quando falta alguma coisa e daí vai bem sempre. Somos felizes, graças a Deus. Às vezes, ele diz assim: vou me sentar lá na sombra, quando tu quiser brigar comigo tu vai lá”, brinca. “O dia que chegava, que não tava bom da cabeça, que algum negócio não deu certo, nunca me meti. Deixava e depois a gente conversava. E comigo também, quando eu não tava muito bem. Tinha uma vizinha que o marido chegava e ficava nos ouvidos do homem, ele andava meio fora de si”, compara.
Olmiro também lembra de alguns momentos marcantes na história: “Tinha muito negócio que eu fazia, comprava uma terra ou vendia, que ela ia saber na hora, quando tava tudo acertado. A casa aqui, quando fiz, ela trabalhava no posto de saúde e nem sabia que eu tava me mudando. À tarde avisei ela que viesse pra cá”. Ela conta que se ocupa muito com as tarefas na chácara. “Eu não fico só dentro de casa, vou lá pra chácara cuidar dos bichos”.
Questionado sobre quanto tempo vão ficar juntos, ele diz “Enquanto Deus quiser. Só Deus que sabe quanto a gente pode ficar”.