Projeto que atende crianças no Natal completa 10 anos

“Dê esperança a uma criança, um sonho de Natal” é a campanha promovida, há 10 anos, pela moradora da Vila São Francisco, Sirlei Rodrigues, 40 anos. Ela reúne cartas com pedidos feitos pelas crianças e famílias ao Papai Noel e, com a ajuda de outros voluntários, busca padrinhos. No dia 24 de dezembro, também com doações, distribui cachorro-quente, refrigerantes e doces na comunidade.

Ela diz que a motivação para organizar a festinha surgiu há 10 anos, depois que encerraram as festas no Centro Comunitário São Francisco de Assis, realizadas pela Pastoral Social.
Sem ter no bairro uma ação que promovesse um Natal para as crianças, Sirlei, que teve uma infância pobre, justifica: “Não quero ver as crianças da minha comunidade ter a mesma infância pobre que tive. Hoje se eu puder lutar e trazer para eles um calçado, roupa, para quem eu vejo que precisa, os doentes, idosos e especiais, vou lutar, correr atrás”.
A infância da voluntária foi nas lavouras de milho e feijão, em Sobradinho, de onde é natural. Os pais eram empregados e não conseguiam dar brinquedos para os três filhos. “Via todo mundo brincando com bonecas, bicicleta, tinham festa de aniversário. Pedia para minha mãe uma boneca, mas ela dizia que não podia dar, que tinha que entender que tinha os mais pequenos. Chegou o Dia da Criança, pensei que ganharia uma bicicleta ou uma boneca e, novamente, ela disse que não tinha. Ela entrava na lavoura de milho, escolhia a melhor espiga, com aquele cabelão, enrolava em retalhos de tecido, e era o meu brinquedo. Ela pegava aqueles cabelos da espiga e fazia o cabelo da boneca. Para os meus irmãos meu pai montava uns brinquedinhos. Fui crescendo, mas aquilo sempre na minha cabeça: meu Deus, será que nunca vou ter um brinquedo, uma festa de aniversário, um Natal, nunca vou ter nada?”, lembra.
Aos 13 anos, ela e a família mudaram-se para a Vila São Francisco, em Taquari. Na comunidade, casou e teve três filhos, que estudaram na Escola Estadual Nossa Senhora da Assunção e frequentavam o Instituto Agrícola Presidente Dutra (IAPD). Em uma ocasião em que estava levando as crianças à parada de ônibus, uma situação chamou sua atenção. “Deparei com uma criança de pés descalços. Aquilo me doeu e me vi naquela situação. Pensei: Meu Deus do céu, não acredito que tá voltando a minha infância, mas não quero isto para estas crianças. Voltei pra casa pensando que alguma coisa teria que fazer”. Foi então que começou a nascer o projeto que distribui presentes para as crianças, no Natal, suprindo a festa que era realizada no Centro Comunitário, com a distribuição de presentes, muitos patrocinados por empresas, promovida pela Pastoral Social. Então ela teve a ideia de fazer uma campanha de Natal e, como só aprendeu a escrever o próprio nome, a sobrinha colocou no papel a ideia de Sirlei. Ela deixou a folha de caderno com a lista das crianças do bairro separadas por idade e sexo na rádio e em uma empresa. “Desde ali não parei. Faz 10 anos no dia 24 que faço a campanha”. Na véspera do Natal, a voluntária solicita à prefeitura o fechamento da rua em frente a sua casa e distribui cachorro-quente, refrigerante e os brinquedos. Para angariar recursos, há quatro anos realiza um bingo, em novembro. Nos primeiros anos, a festa ocorria no Centro Comunitário, mas o espaço passou a ficar apertado. Para o Natal 2018, são cerca de 230 cartas de crianças, idosos e deficientes que moram na São Francisco. “Aumentou muita gestante, muita criança. No dia da festa vem gente de outros bairros”, diz. Para distribuir os presentes, ela conta com o auxílio de voluntários, e, neste ano, são três que atuam como estagiários no bairro: Juliana da Rosa Dalauba, 25 anos, Rosália Atkinson, 26 anos, e Sérgio Luís Martins, 55 anos. “Para eu presentear, preciso da ajuda do povo taquariense, porque sozinha não posso. Se não são estas pessoas a me ajudar, não tenho como fazer. Tenho problemas de saúde, mas não deixo me abater. Sei que tem uma criança que no dia 24 vai precisar. Nem todas as famílias terão como dar uma ceia para um filho, fazer uma janta especial. Enquanto eu tiver forças, não vou desistir. Foi um a promessa que fiz para minha mãe, que me ajudava, e faleceu há quatro anos. Se não tiver alguém que lute pela comunidade, a gente sabe o caminho que vem. Às vezes as pessoas dizem que não adianta fazer nada por aquela vila. Não, temos que separar, tem pessoas que saem às 5horas da manhã pra trazer o pão para o seu filho. Não podemos misturar todo mundo, tem pessoas trabalhadoras, honestas e aquele que tá só na fuzarca e, nem pra esse se vira as costas. Se te pedir um acolhimento e puder ajudar, vamos ajudar”.
As pessoas interessadas em colaborar com a ação podem entrar em contato pelos telefones 981813540 (Juliana), 95757013 (Rosália), 981062388 (Sérgio) e 96627842 (Sirlei) e adotar uma carta.

Voluntária arrecada alimentos

Outra voluntária é Rosane de Souza, que está arrecadando alimentos da cesta básica, como leite, feijão, arroz, óleo, material de limpeza, como sabão em pó, e de higiene, para distribuir às famílias da São Francisco e São José, cadastradas por ela. Também é possível colaborar fazendo outras doações para as famílias, como liquidificador, ventilador, chuteira, tênis. O recolhimento será no dia 18 de dezembro, após as 18h. O objetivo dela é atender as famílias também durante as férias escolares. Interessados podem entrar em contato pelo telefone 996526232 (Vivo e whatsapp) e 989057595 (Claro). Há pontos de coleta no comércio, que são informados pelo telefone dela.