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“Cada processo de luto vai trazer a sua singularidade, sua história”

A Paróquia São José, em parceria com as Funerárias Costa e Rocha, promoveram, na noite da segunda-feira, 29, no Salão Paroquial, a palestra Luto e Fé, com as psicólogas Ana Paula Reis da Costa e Fabiana Teresa Corsa da Rosa, do Instituto de Psicologia Luspe (Luto, Separação e Perdas).
Ela destacou que o desafio é aprender a viver num mundo onde a pessoa amada não está e que “a experiência de luto é intransferível e singular”.
O instituto, com sede em Caxias do Sul, foi criado em 1999, para atender famílias que tiveram perda de jovens em acidentes de trânsito.
Antes da palestra, que reuniu mais de 200 pessoas, Ana Costa, concedeu entrevista a O Fato Novo. Ela destacou a importância de a comunidade instrumentalizada dar suporte à família enlutada.

OFN – Por que a instituição foi criada?
O Luspe foi criado em cima de um projeto de acompanhamento psicológico, dentro do setting funerário, a familiares, especialmente, os pais. Na época, de 1999 a 2002, em que o projeto foi se instaurando, tinham muitas perdas de jovens por acidente de trânsito.

OFN – Atualmente quais são as maiores demandas da instituição?
As demandas vêm variando com a passagem dos anos. De dois anos pra cá, além das mortes de jovens violentas e repentinas, temos atendido muito às questões de suicídio. Temos percebido um aumento de casos entre jovens de 14 a 27 anos. Temos o Núcleo de Orientação ao Suicídio (NOS), e atendemos também no Núcleo de Atenção Psicológica e Emergências (NAPE), desastres naturais e catástrofes. Ajudamos familiares da Boate Kiss, do voo 354 da TAM, entre outras situações. Hoje são mais de 21 mil famílias atendidas.

OFN – Quais são as fases do luto?
Não trabalhamos mais com a ideia de fases porque, de certa forma, encapsula o enfrentamento que é tão singular e tão de cada um. Não existe uma receita específica. Trabalhamos muito mais com uma ideia de processo dual, de oscilação. A possibilidade de enfrentar o luto de modo saudável parte de uma permissa de poder cuidar das coisas relacionadas à perda, saudade, tristeza, revolta e, às vezes, culpa, e ao mesmo tempo conseguir cuidar do que é restaurativo, da vida que segue.

OFN – Como o processo de luto deve ser enfrentado?
Temos hoje cerca de 3 milhões de enlutados ano no Brasil. Cada processo de luto vai trazer a sua singularidade, sua história, circunstância da morte – o luto difere também em função da circunstância da morte, do histórico familiar, do histórico dos vínculos, da personalidade de cada enlutado. E a comunidade tem um efeito muito importante em temos de suporte e enfrentamento. Quanto mais cada um de nós puder saber sobre luto, tanto mais ajudará quem passa por isso. O objetivo final é a gente não viver a dor de modo isolado, ou viver um processo de luto que não seja reconhecido, porque não tem um espaço de expressão que vai dar fluência para este processo de elaboração. O suporte e o amparo vem de atividades como esta (palestra) que estamos fazendo hoje.

OFN – Quando pode apresentar complicações?
Atualmente não utilizamos mais o termo luto patológico. O luto não é doença, é um fenômeno que exige um período de necessidades especiais e de restauração. Do ponto de vista do que pode se complicar, as Síndromes de Luto Complicado, devemos pensar sempre nas singularidades da história, no conjunto de sintomas que aquele indivíduo ou aquela família apresenta em relação ao tempo em que o sintoma fica presente e a circunstância da morte. Perder pais pode levar em torno de dois a três anos o período de elaboração; perder um filho, pode levar de quatro a 10 anos e isto depende muito do vínculo dessas pessoas com a gente.
A partir do momento que se apresentam bloqueios na esfera profissional e na social, de longo período, mais de dois anos, aí vamos pensar no encaminhamento para um atendimento mais técnico. Por exemplo, demissões recorrentes, processos com álcool ou drogas, dificuldades contínuas para dormir ou para se alimentar, dificuldade de tomar decisões, reinvestir na vida. Ainda assim, não podemos dizer que é uma Síndrome de Luto Complicado. Muitas pessoas estão sofrendo pela ausência de instrumentalização das comunidades. Às vezes, uma ajuda consciente e de conhecimento faz todo o processo fluir.

OFN – Como explicar para as crianças este processo?
O luto é o custo do compromisso de amar. Tem um autor, Colin Parkes, que diz que só sentimos dor porque amamos. Quando estamos cuidando da perda, estamos cuidando desse amor que gostaríamos de manter na vida. É muito importante aprender que o desafio é aprender a amar em separado e isso é o processo de luto propriamente que traz. As crianças tem um jeito muito próprio de viver isso. Elas respeitam muito a habilidade e a capacidade que o adulto tem de lidar com a dor. Às vezes elas só trazem o tema quando percebem que o adulto consegue lidar com isso. É sempre importante ser muito honesto com a criança, não usar expressões fantasiosas ou exageradas, ter um diálogo aberto respondendo aquilo que ela pergunta. Se o adulto sente que a criança tem condições e deseja ir se despedir no velório, isso pode ser disponibilizado com segurança, independente da idade, desde que a criança não vá para o ritual fúnebre em momentos muito pesados de emoção. Pode ir se despedir no meio do ritual fúnebre. Crianças maiores fazem desenhos e colocam nas urnas. A chegada de uma criança no ritual fúnebre é muito comovente e o adulto tende a dizer que não pode porque ele não consegue lidar. No entanto, a crianças conseguem entender com clareza.

OFN – O mesmo vale para os idosos?
Sim, mas temos algumas implicações específicas. As pessoas tendem a pensar que por já terem vivido uma vida com várias perdas podem estar melhor instrumentalizados, mas eles sentem muita dor na perda de jovens porque, em geral, podem vir a fazer um tipo de conexão: ‘por que não fui eu no lugar do meu neto ou filho?’ Então precisam de suporte e acompanhamento diário. Os idosos correm o risco de um processo depressivo que se atravessa no enlutamento.

OFN – Há algum sentimento que dificulta o processo de luto?
O mais difícil que temos atendido e tentado instrumentalizar muito as pessoas é a questão das lágrimas. As pessoas tendem a construir um período via cultura pro processo de luto dizendo coisas do tipo: você ainda está chorando ou nossa, você já está sorrindo. Isto é muito complicado para quem vive o processo. É muito importante que quem vive o processo saiba que a receita é sua, que o amor é seu e que o tempo é seu.

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