Homem das ervas, como tem ficado conhecido, diz que já atendeu mais de três mil pessoas em Paverama

Na estrada geral de Morro Azul, no interior de Paverama, a vizinhança já está acostumada a orientar os visitantes. A localidade pacata, com poucos moradores, tem estado movimentada nos últimos meses. Isto porque, desde agosto, reside no local o campo-bonense Delmar Valdomiro Sander, de 64 anos, que trata de doenças através de chás, homeopatias e cirurgia espiritual. O curandeiro, como se denomina, diz que já atendeu mais de 3 mil pessoas do Vale do Taquari e região.

É em uma casa simples, de madeira, no pé de um morro, em que o homem, natural de Campo Bom, atende os pacientes. Na sala conjugada à cozinha, três bancos de madeira e um pequeno sofá rasgado dão espaço para a espera do público. Na parede, um cartaz avisa que deve ser retirada ficha para o atendimento. Outro comunica que, em novembro, ele deve deixar o local em que está os atendimentos.
Alguns trazem presentes para o curandeiro. Dois pacotes de erva de chimarrão, trouxe um. Pão e outros mantimentos para um café, trouxeram outras senhoras. “Eu não peço nada, aquilo que Deus me deu de graça, eu dou de graça”, diz Delmar.
Apenas uma cortina separa a recepção da sala de atendimentos, onde há uma cama, um banco, uma mesa com um rádio e algumas velas, além de um quadro religioso. Mais de 10 pessoas estavam no local na tarde da segunda-feira, 15 de outubro, para consultar com Delmar. Algumas saíram com cipós, outras com mudas da popular Maria-mole, uma planta comum em campos nesta época do ano, que dá uma flor amarela. Todos materiais receitados pelo curandeiro. Um ritual de esfregar uma mão na outra enquanto coloca os pés de molho em bacias de água, uma com sal, outra com gotas de limão, também é recomendado pelo “homem das ervas”, como tem ficado conhecido na região.
Uma das pacientes obteve o diagnóstico de síndrome do pânico. “Eu encosto na mão da pessoa e vejo o que ela tem”, contou o curandeiro. Ela tomou um chá, que Delmar guardava em uma grande garrafa de vidro dentro da geladeira. Colocou uma camiseta branca entregue por ele. A paciente deitou-se na sala de atendimentos, onde ficou sozinha por cerca de 1h30, ouvindo mensagens positivas, gravadas em algum dispositivo eletrônico. Ao sair da sala de atendimento, disse que se sentia melhor. Em um pedaço de folha de caderno, Delmar receitou alguns procedimentos para a paciente repetir em casa.

A entrevista

Sentado em um banco de madeira, em uma pequena área nos fundos da residência, Delmar conversou com O Fato Novo. Disse que é natural de Campo Bom, cidade situada no Vale dos Sinos, e que descobriu o que considera um dom, aos 24 anos, na Bahia. Na época, exercia a profissão de caminhoneiro e, durante uma pausa para carregamento da carga, foi a um encontro com um monge. “Eu me encostei numa árvore e tá todo mundo lá escutando o homem e ele disse “aqui tem uma pessoa que não sabe, mas vai ser um dos maiores curandeiros”, e ele pegou e apontou o dedo reto para mim, eu olhei para trás e não tinha ninguém atrás de mim. Ele me ajudou muito, me disse o que ia acontecer, que eu ia começar a enxergar as coisas e não deu outra, não demorou muito para começar a acontecer”, relatou. O curandeiro contou que a partir dali começou a desenvolver o dom e disse que basta olhar para as plantas e raízes para saber em que tratamento podem ser utilizadas. Ele também relatou que viveu um tempo com índios para aprimorar seus conhecimentos sobre chás e ervas e que realiza atendimentos há 40 anos, tendo atuado, além de Campo Bom e Paverama, em municípios do nordeste. “Nunca tive nenhum problema, nada até hoje. O tratamento é com ervas. A homeopatia é um suplemento. Não tem doença para mim que eu não trato”, considerou.
Sem ligações com nenhuma religião, o curandeiro mudou-se para Paverama em agosto deste ano, após ter contato com dois moradores do município, que foram atendidos por ele em Campo Bom, e arrumaram uma casa na localidade de Morro Azul para o homem realizar os atendimentos no município. Um deles é o morador do bairro Morro Bonito, Miguel Valdoir de Carvalho Tristão, de 63 anos. Ele conta que Delmar curou dois tumores que ele tinha no fígado e intestino. “Para mim, quem me tirou de dentro do caixão foi ele. To aqui tranquilo, graças a Deus. Ainda tem gente criticando o coitado desse véio e ele não cobra nada, dá o que quiser. Ele é muito milagroso, trabalha bem. Ele tem esse dom de Deus, é um poder muito grande”, contou o morador de Paverama, dizendo que trouxe o curandeiro para o município, pois acredita que a região carecia deste tipo de atendimento.
É Miguel quem busca, em um laboratório de Montenegro, as homeopatias receitadas pelo curandeiro e as guarda em casa, no bairro Morro Bonito. Segundo definição encontrada na internet, homeopatia é um método terapêutico que consiste em prescrever a um doente, sob uma forma diluída e em pequeníssimas doses, uma substância que, em doses elevadas, é capaz de produzir num indivíduo sadio sinais e sintomas semelhantes aos da doença que se pretende combater.
Miguel também tem algumas plantas e cipós e indica para as pessoas onde os encontrar. “O cliente dá o dinheiro, eu acerto lá, trago a notinha, tudo certinho. O cliente vai lá em casa, porque fica mais perto, vem gente de tudo que é lado, de Teutônia, Taquari, Canabarro”, contou Miguel. O curandeiro disse que passou esta parte do atendimento para o amigo, pois não estava dando conta. “Cada um dá uns R$ 10, R$ 15, para ele ir lá, ele vai de carro, busca e já entrega. Eu não podia fazer isso aqui, eu só faço atendimento, passei essa parte para o Miguel me ajudar, é muita gente para atender. De chegar dias de eu não conseguir comer meio-dia. Pode estar aqui às 6h da manhã que já tem gente”, relatou Delmar.
Além dos chás e homeopatias, o curandeiro realiza cirurgias espirituais. “Não utilizo corte. Eu vejo onde está o problema, eu fecho os olhos e faço a operação espiritual. Seria assim: tu tá num mundo tridimensional aqui, eu faço e transmuto pro universo paralelo. Eu sei quando eu consigo, se eu conseguir não tem mais nada nesse corpo. Mas cada caso é um caso”, explicou.

Morador de Taquari realiza tratamento desde junho

O taquariense João Antônio da Costa Lopes, 42 anos, portador de Esclerose Lateral Amiotrófica, doença progressiva degenerativa, realiza tratamento com Delmar desde o dia 30 de junho, quando ele ainda atendia em Campo Bom. “Eu tinha muito frio nas pernas e nos pés. Do joelho para baixo era um gelo. E agora eu não sinto mais isso depois desse tratamento dele. Eu já noto uma circulação bem melhor, não é mais tão escura a minha perna, ficava muito escura de sangue. E agora não, é a cor normal como o resto do corpo. Agora, a gente vai começar uma nova etapa, que é para a função dos movimentos”, contou.
A doença que João Antônio tem provoca atrofia muscular, dificultando os movimentos do corpo. Além de ir ao curandeiro, o paciente mantém tratamento com um remédio italiano, o qual utiliza há cerca de um ano. Ele diz que os efeitos da esclerose, que já prejudicaram partes de seus movimentos, não foram revertidos, mas tem esperança de que a progressão da doença estanque. “Eu acredito, mesmo que não resolva fisicamente, o que ele me faz pensar, o que ele me esclarece, é como se fosse um psicólogo para mim. Eu não fico para baixo de não conseguir fazer as coisas, de estar limitado. Eu não tomo nada de atidepressivo por causa dele, ele faz um acompanhamento bom”, considerou João Antônio.