O Fato Taquari Jornal On-Line
A chegada do primeiro filho do casal Alice Nogueira da Silva, 18 anos, e Éverson Bernardo da Silva, 21 anos, tornou-se trágica para a família moradora do bairro Leo Alvim Faller. Cerca de 20 horas após o rompimento da bolsa do líquido amniótico, após a realização de uma cesárea emergencial, os familiares receberam a notícia de que o bebê havia morrido. A família suspeita de erro médico e procurou O Fato Novo e a polícia para denunciar o caso.
Segundo Alice, a bolsa do líquido amniótico rompeu-se por volta das 23h30, da quinta-feira, 20 de setembro. Ela foi levada ao Hospital São José, de Taquari, e encaminhada, em cerca de 25 minutos, para o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, para a realização do parto, onde chegou à 1h10. No prontuário de atendimento da gestante em Taquari, consta que ela estava com 40 semanas de gestação e relatava fortes dores e perda de líquido em grande quantidade.
No Hospital Conceição, a jovem, que estava acompanhada do marido e da mãe, Adélia Inês Alves Nogueira, diz que foi informada de que estava com pouca dilatação e orientada a caminhar e fazer alguns exercícios para que fosse possível a realização de parto normal. Por volta das 18h da sexta-feira, 21 de setembro, a equipe médica teria iniciado o parto natural, mas não houve sucesso. “No outro dia, depois de quase 20 horas, eles tentaram parto normal, mas eu não conseguia. Não sei se eles não viram reação dele (bebê), porque eu estava fazendo força e ele não reagia, mas fizeram um exame para ver os batimentos dele, tentaram de todos os jeitos, usaram três apparelhos, e nada de aparecer os batimentos dele. Aí falaram que iam ter que fazer a cesárea de emergência. Só fizeram a cesárea porque o coração dele não estava batendo, se não, iam esperar mais tempo para fazer parto normal”, contou Alice.
O pai do bebê, Éverson da Silva, assistiu à cesárea. Mas logo após o nascimento do filho, foi retirado do quarto enquanto os médicos tentavam reanimar o bebê. “A gente tinha esperança de que ele ia ficar bem”, contou o pai. Às 18h22, foi atestado o falecimento do pequeno Lorenzo Bernado Nogueira da Silva, tendo anoxia fetal como a causa da morte. A mãe também teve complicações pós parto, como infecção e pressão alta, e precisou ficar hospitalizada até a sexta-feira, 28 de setembro.
Para o casal, a demora na realização do parto foi o que levou ao falecimento do bebê, já que a gestante havia realizado dez consultas pela secretaria municipal de Saúde durante o pré-natal, sendo que todos os exames mostravam uma gestação saudável. “Estava tudo normal, a gravidez foi ótima. Ele nasceu com mais de 3Kg e 51 centímetros. Foi um descaso o que eles fizeram. Se fosse particular, não teriam demorado tanto para fazer o parto. Foi um erro deles e é uma dor que eu vou sentir para o resto da vida”, disse a mãe.
Os taquarienses moverão ação judicial contra o Hospital Nossa Senhora da Conceição e procuraram orientação jurídica nesta semana, para saber como proceder. Eles também registraram ocorrência policial sobre o caso.
Família abalada
Um dia após enterrar o primeiro neto, Aloí Alves da Silva, pai de Éverson, conversou com O Fato Novo. Muito abalado, ele tinha outra difícil missão para enfrentar, retirar as roupinhas e móveis do bebê do quarto do filho e da nora, para buscar diminuir o sofrimento dos dois quando voltassem para casa. “Eles não queriam que tirasse nada, mas a gente convenceu que era melhor. É difícil, tudo que a gente podia comprar, a gente comprou. Ele tinha de tudo esperando por ele e acontecer uma coisa dessas? Eu não me conformo”, se emocionou o avô.
Por que o parto não foi realizado em Taquari?
A gestante foi encaminhada para atendimento em Porto Alegre tendo em vista que não estão sendo realizados partos em Taquari. Isto porque o bloco cirúrgico do Hospital São José está interditado desde julho deste ano e necessita de reformas, além de que é preciso comprar equipamentos para o setor de obstetrícia e pediatria. Também não há um médico obstetra atendendo pelo hospital atualmente. “A readequação do bloco cirúrgico e a contratação de obstetras para o atendimento no hospital são prioridades da administração municipal. A aquisição de equipamentos para o local já está sendo finalizada e a procura por um profissional da área é contínua. Porém, assim como em outros municípios do interior, existe uma dificuldade grande para a contratação de médicos especialistas. Ainda assim, a gestão tem se esforçado neste sentido”, informou o prefeito Maneco. Ele também ressaltou que a administração busca proporcionar o melhor atendimento possível para as gestantes. “A declaração da família de que o pré-natal e a transferência até Porto Alegre foram feitos de forma adequada corrobora o compromisso do município em garantir o melhor atendimento possível às gestantes de Taquari. Há o atendimento obstétrico pela Secretaria da Saúde, tanto que todo o pré-natal é realizado e também são mantidos grupos de gestantes, para que seja feito um acompanhamento completo à saúde de toda a família, incluindo mãe, filho e até o pai”.
Hospital Conceição não se manifesta
O jornal questionou o Hospital Nossa Senhora da Conceição sobre o caso. Até o fechamento desta edição, a casa de saúde não emitiu os esclarecimentos solicitados.
