Empreendedor das águas

O empresário Adroaldo da Silva Couto, 70 anos, iniciou as atividades profissionais em 1974, quando começou a transportar para a realidade seu sonho de criança: atuar na área da navegação. “Desde pequeno sempre fui envolvido. Meu pai teve barco e desde os meus 7 anos de idade eu fazia barquinhas similares à do Daer. Eram de folha e puxava com os cascalhos em cima fazendo que eram os caminhões e ônibus”, conta.

O empresário seguiu os passos do pai, Emílio Couto, que teve comércio na margem do Rio Taquari, junto ao embarque da balsa do Daer, no ponto chamado de Revessa, hoje, localidade de Beira do Rio. Naquele época, a travessia dos automóveis para Venâncio Aires era nesse ponto. “O pai tinha o boteco junto onde faz a fila dos carros. Ali peguei gosto por isso. Atravessavam o Expresso Azul, Gaúcho e o Ouro e Prata, todos passavam na barca da Revessa, não existia ponte”, explica.
Com a inauguração da ponte sobre o rio Taquari, na localidade de Mariante, em 1959, terminou o movimento na balsa. O pai de Adroaldo comprou um barco, feito de madeira, e passou a puxar areia de São Jerônimo para a Beira do Rio, no local onde tinha o porto, aproveitando o espaço deixado pela balsa do Daer. Mais tarde, trocou por um barco maior e de ferro e passou a puxar cascalho de Taquari para Porto Alegre.
Um ano depois, nos anos 70, Emílio Couto passou a fazer, no ponto onde é a balsa atualmente, no bairro Praia, a travessia de pessoas que estavam a pé, em uma canoa de timbaúva (tipo de madeira) e remo, com capacidade para quatro pessoas. Naquela época, era feita a travessia no rio Taquari pela prefeitura para automóveis. Nesta fase, por volta de 1974, Adroaldo Couto, que tinha trabalhado como mestre de embarcações, assumiu a função do pai no transporte de passageiros. Logo passou a oferecer uma lancha a motor para 20 pessoas. Em 1979, obteve a concessão e investiu na ampliação do serviço. “Comecei com veículos leves carregados na proa. Um carro só embarcado com tábuas”. O trabalho da prefeitura que, segundo ele, era clandestino, demorava muito, daí acabavam passando a fazer com sua balsa. Depois obteve uma de maior capacidade, que passava cinco carros. Essa foi até 1987, quando passou a operar com outra para veículos mais pesados, financiado pelas empresas Satipel e Seta. “Eles queriam balsa para veículos mais pesados, e a prefeitura não tinha, e eu era o dono da concessão. Levei 10 anos para pagar”, recorda. Essa foi a Barca Sílvia, nome da esposa de Adroaldo. A embarcação tem capacidade para quatro caminhões truck, o equivalente à média de 64 toneladas.

Embarcações levam nomes da família

Depois da balsa Sílvia, a empresa teve a Karine Couto e o rebocador Márcio, uma referência aos filhos do empresário. Essas embarcações foram utilizadas pela empresa por dois anos. Após, em 1996, foram vendidas e estão trabalhando no Rio Uruguai.
Atualmente, possui a Deusa do Jacuí (de 1991), que está fazendo a travessia em Cachoeira do Sul, e a Taquariense feita em 2010, com 900 m² de área de estacionamento e capacidade para até 700 toneladas de carga, sendo a maior de travessia do Rio Grande do Sul. A embarcação está operando na travessia Taquari/General Câmara. Há, também, quatro rebocadores e há duas dragas, a Emílio Couto e a Cristo Redentor. O empresário aguarda a liberação para fazer a mineração de areia na Lagoa dos Patos e encaminhará para os terminais de Taquari, localizados na área onde era o depósito da empresa Jomasa, e outro no Rio Gravataí, em frente à Arena do Grêmio.

Balsas atuam em situações de emergência

As embarcações do empresário já atuaram em várias situações de emergência pelo Estado e até com o Argentina. Em 1990, fez a travessia Rio Pardo/Pântano Grande, quando houve a queda da ponte; entre 1992 e 1993, a empresa operou no Rio Ibicuí, entre Alegrete e Massambará; em 1994, foi em Cruzeiro do Sul/Estrela, quando houve a interdição da ponte para a obra de duplicação da BR 386 e, em 2010, esteve também em Agudo/Restinga Seca quando houve queda na ponte. Entre 1994 e 1996, atuou no Rio Uruguai, entre Itaqui/ Alvear, na Argentina.

Estaleiro mantém 40 empregos

A atividade de travessia do rio pertence à empresa Adroaldo ME. Paralela a essa atividade, ele mantém um estaleiro desde 2001, que é da Naval Couto LTDA..
Na margem do rio Taquari, são realizados os serviços de manutenção e construção de embarcações. Nesta semana, estavam nos trilhos um navio da empresa Guarita, de Porto Alegre. “Fazemos manutenção nos barcos da empresa e para terceiros. Já trabalhamos para São Paulo e balsa para o Uruguai”, conta.
O estaleiro e a área onde está localizado foram adquiridos pelo empresário em 2003, mas existe desde 1970. “Adquiri dos herdeiros de Luís Carlos dos Santos”, conta.
No local, atualmente, trabalham 40 pessoas nas funções de soldador, caldeireiro e ajudante.
“Gosto de construção naval e para criar os empregos. Uma embarcação dessas, que poderia ser feita num estaleiro lá em Porto Alegre, tá aqui em Taquari. Sempre dou valor a isso, à mão de obra daqui e não buscar de fora”.
Ele destaca, ainda, que no ramo da construção naval há muita mão de obra em Taquari. “Como a Intecnial fechou, têm muitas pessoas trabalhando em outras cidades, até em Santa Catarina. Fico faceiro que vai voltar a funcionar o estaleiro da Aliança e vai desafogar esta pressão que existe do pessoal e não consigo contratar. Se precisasse de 200 funcionários, hoje, desse ramo eu teria em Taquari”, salienta. A empresa de travessia possui 16 empregados. Ao todo, são 56.